Profissionais com boa redação têm um traço em comum: conseguem ser invisíveis em tudo aquilo que escrevem. Eles “desaparecem” atrás dos seus textos, que sempre são fáceis de entender e não trazem nenhum vestígio de esforço ou exibicionismo.

O redator que deseja brilhar, por outro lado, acaba ofuscando sua própria mensagem. No esforço de parecer inteligente, ele se perde em palavras difíceis, estruturas complexas, referências indecifráveis — tudo o que pertence ao estereótipo de um texto culto. Em vez de impressionar, confunde.

“Uma boa redação é transparente”, afirma a escritora e consultora Liane Davey em artigo para o site Harvard Business Review. Segundo ela, você só escreverá bem se investir em um bom conteúdo e limpá-lo de todas as interferências ou distrações que tornem o seu recado menos claro.

Tudo começa pela definição de um objetivo. Antes de começar a escrever, é importante se fazer esta pergunta: o que eu quero que as pessoas pensem, sintam e façam depois da leitura? A resposta vai influenciar todas as suas escolhas enquanto redator, do vocabulário escolhido à ordem dos argumentos.

Imagine, por exemplo, que você está elaborando um relatório de vendas, e a informação principal é a de que 60% da meta trimestral foi atingida. Seu objetivo é tratar esse resultado como tranquilizador ou alarmante? Quer apenas que seus leitores estejam bem informados ou que façam algo a respeito? Com base nesse planejamento, é hora de escrever a primeira versão do texto.

O próximo passo é fazer uma revisão criteriosa para tornar tudo o mais simples, direto e conciso possível. Em seu artigo para a HBR, Davey traz alguns princípios necessários para esse processo. Confira a seguir:

1. Elimine as palavras difíceis
“Profícuo” ou “proveitoso”? “Idiossincrasia” ou “peculiaridade”? Na dúvida entre um termo considerado culto e o seu sinônimo mais conhecido, escolha sempre a segunda opção. No contexto profissional, a qualidade de um texto está na simplicidade, isto é, na capacidade de expressar uma ideia de forma acessível a qualquer leitor.

Mas atenção: a preferência por termos simples não pode levar à repetição de palavras. É importante empregar sinônimos, desde que eles sejam compreensíveis pelo maior número possível de pessoas.

2. Fuja dos modismos
O discurso corporativo está cheio de palavras “chiques” — que muitas vezes querem dizer algo muito diferente do que se pretende. Um caso típico é o adjetivo “assertivo”, empregado por muita gente com o sentido de “preciso”, “certo” ou “seguro”. O significado, porém, é outro: uma pessoa assertiva é aquela que defende suas ideias com firmeza e autoconfiança.

“Não use uma expressão só para parecer mais esperto do que os outros, escolha alguma que aumente a conexão entre você e os seus leitores”, aconselha Davey. Além de ser mais simpático, você não correrá o risco de empregar palavras de forma incorreta.

3. Evite a voz passiva
Na tentativa de escrever um texto pomposo, muita gente usa a voz passiva, isto é, a forma verbal em que o objeto da ação vira sujeito. É o caso de dizer algo como “Queixas foram registradas pelos clientes” em vez de “Os clientes registraram queixas”. Segundo Davey, é melhor usar a voz ativa para tornar as suas frases mais simples, diretas e facilmente compreensíveis.

No lugar de frases como “O pagamento ainda não foi efetuado” e “O relatório será entregue na sexta-feira”, é melhor escrever “Sua empresa ainda não efetuou o pagamento” e “Vamos entregar o relatório na sexta-feira”, por exemplo. Em ambos os casos, a voz ativa identifica claramente as responsabilidades de cada pessoa envolvida na conversa.

Por: Claudia Gasparini/ Fonte: Exame.com