Especialista aponta características e carreiras em alta no mercado de trabalho.

Em tempos de crise econômica, o desemprego assombra milhares de trabalhadores brasileiros. Preocupadas com o futuro e, em alguns casos, lucrando menos, as empresas optam por enxugar seus quadros de funcionários. Segundo o diretor de relações institucionais com empresas da Associação Brasileira de RH do Rio do Janeiro, Carlos Vitor Strougo, em tempos como esse, sobrevive o profissional “que se adequa”.

“Não estou falando de profissional bom ou ruim, mas adequado. Como as empresas estão entrando em dificuldade, elas precisam enxugar, pensam: não posso mais carregar o que não está mais entrosado. Esse profissional vai precisar estar o máximo possível na relação custo x benefício”, analisou.

Somente no estado do Rio de Janeiro, houve retração de 80.247 postos de trabalho no primeiro semestre de 2015, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, em levantamento da Firjan. Essa foi a primeira vez em dez anos que a geração de postos de trabalho no RJ ficou negativa no período.

“Chama a atenção o fato de o resultado do 1º semestre desse ano ter sido menor do que o apurado no mesmo período de 2009 (+28.623), ano da crise econômica mundial”, ressaltou a Firjan. No setor de Serviços, a retração no RJ foi de 19.709 vagas, enquanto na indústria, 20.238. Na construção civil, foram reduzidos 11.892 postos. Já no comércio, essa diminuição chegou a 28.811.

Sobrevivência

O especialista explicou que “é uma relação de sobrevivência”, e que nesse momento, todas as “empresas ligaram o sinal amarelo” e que muitas companhias estão desligando por antecipação ao verem em sua volta a situação das demais.

“É o movimento certo. Numa situação de crise conjuntural, mais cedo ou mais tarde, você vai ser afetado. A empresa não está mal, mas você está olhando em volta e está vendo que o bicho está pegando. Se não sou eu, daqui a pouco serei eu”, completou.

Características em alta

O diretor ressaltou ainda que para que esse profissional se destaque entre os demais e seja “poupado” na hora de um corte de funcionários ou vença uma seleção, na cabeça do empresário, o importante nesse momento é que esse trabalhador “resolva melhor o problema” e que “tenha capacidade analítica”.

“É a pessoa olhar e dizer: isso que estou vendo, esses sintomas, estão me dizendo alguma coisa. Se fosse levar para área médica, seria uma pessoa muito boa em diagnósticos. Não preciso de médico especialista, mas diagnóstico, alguém que me diga: já fizemos isso, já fizemos aquilo [para resolver o problema]. Capacidade rápida entre o que está acontecendo e ajudar a empresa a vencer aquilo está sendo muito valorizado”, descreveu.

Segundo Strougo, em momentos de crise, essa característica em um profissional é tão importante para as empresas que, na hora da contração, a companhia prefere um trabalhador com essa qualidade ao melhor profissional do mercado.

“Não está se contratando o melhor profissional do mercado. Os profissionais estão meio assustados, salário hoje ficou em segundo plano. As empresas hoje trabalham com seus planos bem definidos. É preciso ter alguém que faça o que estou precisando, seja na área financeira, seja logística, e com agressividade maior. Qualidade de um bom analista, não é olhar para a planilha de Excel, é olhar e dizer o que significa”, completou.

O diretor acrescentou ainda que “a compreensão dos fenômenos que estão acontecendo no mercado e sua interpretação é uma vantagem extraordinária [para o profissional]”. Outra característica importante é “ser capaz de fazer a equipe andar. Mesmo que você tenha exército ‘torto’, ser capaz de conseguir alcançar os resultados”.

Em baixa

Ainda segundo o diretor da ABRH-RJ, estão em baixa algumas características como: ego inflado. “Pessoas com ego inflado, fuja delas. Estão se colocando à frente da situação da empresa.  Não é momento de se preocupar com ego, nem desenvolvimento de carreira, hoje tem que ajudar a empresa a sobreviver, hoje você tem que ser parceiro, um sócio virtual da empresa, tem que estar junto”.

Strougo ressaltou, no entanto, a importância de não confundir ser parceiro da empresa com trabalhar em excesso.

“As empresas estão preferindo alguém que trabalhe 8h a 10h, mas seja focada. No Brasil, existe ineficiência muito grande. Pessoas chegam às 9h e vão ler jornal. O excesso de trabalho, quanto mais cansado [você está], menos consegue enxergar. Não é à toa que empresas como Google dão comida grátis, tem pingue-pongue. Se ficar produzindo 10h direto, não vai produzir mais nada, eles [empresas como a Google] estão à frente, já sabem que isso acontece”.

Áreas em alta

Apesar de analisar que a crise no momento atual do mercado de trabalho afeta todos os setores, ainda há carreiras que não estão sendo afetadas, aponta o diretor da associação.

“Pessoal que trabalha em fornecimento de aplicativos, para área de informática e Telecom, ainda está bem e talvez não seja afetado. Porque é uma área que continua vendendo, não as empresas de Telecom, estou falando de jogos, aplicativos. Há um segmento muito grande que busca toda hora coisa nova para comprar”, afirmou.

De acordo com ele, a própria competição entre as empresas de aplicativos, jogos e serviços ligados à computação e celulares, faz com que a companhia busque por novos profissionais.

“Cada vez que uma empresa faz negócio desse, precisa de um bando de pessoas de informática para que faça funcionar dessa forma. Em vez de 100 minutos, vai ser 150 minutos. Implica grandes mudanças, toda uma cadeia”, concluiu.

O diretor apontou outra área em alta nesse momento: o segmento de jovens empreendedores e a cadeia de startups (qualquer pequena empresa em seu período inicial). Segundo Strougo, todo o setor ligado ao desenvolvimento de informática está mostrando que está sendo menos afetado pela crise.

“Muito jovens desiludidos [com o mercado]. Como muitos ainda moram com os pais, não são casados, não têm filhos e o custo de investimento é pequeno, existe um número grande de profissionais tentando dar de Zuckerberg [um dos fundadores do Facebook], e para isso, precisa de programador. Existem algumas posições que têm demanda: especializado em trabalhar na nuvem, criptografia. Tem muita gente que em vez de ficar chorando, está querendo vender lenço”, concluiu.

Por Cristiane Caoli / Fonte: G1