O ano de 2017 foi agridoce para os advogados no Brasil. Os primeiros meses seguiram a tendência que vinha desde 2016 e foram marcados por demissões, principalmente nos departamentos jurídicos das empresas. As poucas vagas que continuaram sendo abertas foram para escritórios de advocacia. Porém, no 2º semestre, os primeiros sinais de uma retomada econômica reanimaram as contratações.

Esse movimento de recuperação do mercado de trabalho deve continuar ao longo de 2018, segundo a advogada Camila Dable, sócia da Salomon Azzi, consultoria de recrutamento e seleção voltada ao mercado jurídico. “A volta dos investimentos abrirá cada vez mais vagas no mercado jurídico, principalmente do nível gerencial para cima”, explica ela.

Com a vigência da reforma trabalhista e a expectativa de aprovação da reforma da previdência, advogados especializados nesses temas devem ser bastante solicitados em 2018. “Temos visto muitos especialistas serem convidados para dar ‘aulas’ sobre as reformas nas empresas”, diz Dable. “No ano que vem, esses consultores serão ainda mais requisitados para orientá-las sobre as mudanças”. Saiba mais: A ContaAzul explica o que muda com a Reforma Trabalhista nas pequenas empresas Patrocinado 

As eleições marcadas para outubro de 2018 também terão impacto sobre o mercado jurídico, e a figura do advogado eleitoral deve ganhar relevo. Segundo a sócia da consultoria Salomon, Azzi, esse profissional será bastante demandado por partidos políticos e candidatos antes, durante e depois do pleito.

Afinal, conflitos entre siglas e seus representantes, discussões sobre a viabilidade de candidaturas com a Lei da Ficha Limpa e eventuais cassações de mandatos certamente marcarão o processo eleitoral — e os advogados serão essenciais para resolver essas questões.

O mercado de trabalho em 2018, ainda não plenamente recuperado do ponto de vista econômico e abalado pelas incertezas políticas, deve valorizar o advogado com capacidade de se comunicar com seu cliente de forma objetiva, clara e segura. “Além de dominar a área técnica, o profissional deverá entender de negócios e ter foco na resolução do problema, transmitindo confiança plena a quem o contratou”, resume Dable.

A pedido do site EXAME, as consultorias de recrutamento Salomon, Azzi e Michael Page fizeram um levantamento sobre as carreiras jurídicas mais promissoras para o ano que vem. Confira:

Sócio/gerente de contencioso cível

O que faz: Atua diretamente com processos jurídicos, resolvendo questões legais já em esfera judicial ou arbitral.

Perfil: É preciso ter capacidade de coordenar equipes, demonstrar autonomia para conduzir casos estratégicos e saber lidar com grande volume de processos.

Motivo para alta em 2018: De acordo com a Michael Page, a razão para a valorização desse profissional é conjuntural. “Com a retração da economia, pode-se notar o aumento de conflitos e de cobranças, o que resulta no maior número de processos judiciais na esfera cível”, diz a consultoria.

Advogado eleitoral

O que faz: Prepara e acompanha candidatos durante a campanha para garantir que todos os seus atos estejam em conformidade com a lei. Seu trabalho continua após a disputa nas urnas, quando permanecem as defesas em processos eleitorais e também em eventuais pedidos de cassação após a posse.

Perfil: Graduação em Direito e pós graduação em Direito público e Direito eleitoral.

Por que está em alta em 2018: Os últimos acontecimentos no cenário político fizeram com que o Direito eleitoral se tornasse uma prática com demanda recorrente e não somente procurada em época de eleições. Recentes condenações e novas leis, como a Ficha Limpa, fazem com que partidos e candidatos busquem assessoria jurídica especializada antes das eleições para resolver pendências e se preparar para a disputa eleitoral. “Em 2018 teremos como cenário uma disputa acirrada, principalmente em razão de todo cenário político e econômico de 2016 e 2017, com uma pluralidade de partidos e candidatos maior do que nos últimos anos”, diz Camila Dable, sócia da consultoria Salomon, Azzi. “Os advogados terão um papel tão importante nas campanhas quanto os marqueteiros, e serão disputados entre os partidos”.

Advogado de relações institucionais

O que faz: Acompanha o dia a dia do Congresso Nacional e as principais proposições legislativas, que têm impacto relevante sobre a economia e as empresas. Também está sempre a par das principais políticas públicas do governo federal.

Perfil: Graduação em Direito e pós graduação em Direito público e Direito eleitoral.

Por que está em alta em 2018: Questões regulatórias, legislativas e políticas sempre têm extrema importância para a agenda das empresas. Com tantas mudanças previstas para 2018, esse advogado será demandado como porta-voz dos interesses da empresa perante o setor público. Ele será fundamental para manter um canal permanente de interlocução com a esfera governamental e exercer influência de forma legítima na elaboração de políticas públicas, diz Dable, da Salomon, Azzi.

Advogado consultivo trabalhista (escritório de advocacia)

O que faz: Faz consultas de rotina sobre questões trabalhistas, com foco em assuntos que trarão impactos para a operação da empresa.

Perfil: Graduação em Direito, com pós graduação ou mestrado na área. Inglês fluente costuma ser exigido.

Por que está em alta em 2018: “Com a recente alteração da legislação trabalhista, as empresas tenderão a aumentar o volume de consultas”, diz Renato Shapiro, consultor da Salomon, Azzi.

Sócio tributário (escritório de advocacia)  

O que faz: É responsável por toda demanda tributária, seja ela contenciosa ou consultiva. Porém, como sócio, também trabalha na gestão da equipe, bem como na prospecção de novos clientes.

Perfil: Graduação em Direito, combinada com especialização ou mestrado na área. Formação em administração, economia ou ciências contábeis complementa o perfil.

Por que está em alta em 2018: Os motivos da valorização são a soma do crescimento do investimento no país com a alta burocracia tributária. Segundo Shapiro, da Salomon, Azzi, o advogado tributarista, especialmente com viés consultivo, passa a ser mais demandado nesse contexto. “Se a área tributária da empresa não for bem atendida, todo investimento pode virar prejuízo”, explica o consultor.

Advogado de arbitragem  

O que faz? Representa os clientes na Câmara Arbitral e ajuda a definir estratégias para condução do litígio.

Perfil: Graduação em Direito com especialização ou mestrado em contencioso cível, LLM em Direito empresarial e inglês fluente.

Por que está em alta em 2018? “Atualmente os processos de arbitragem vêm crescendo, batendo recordes no Brasil, porque representam uma forma alternativa, rápida e confiável de resolução de conflitos extrajudiciais, com menos burocracias”, diz Marcela Libanori, consultora da Salomon, Azzi. A solução também costuma ser preferida pelas empresas por ser mais precisa e consistente, já que os árbitros são escolhidos pelos próprios litigantes. Esse é o contexto por trás da valorização do advogado de arbitragem, especialmente daquele com larga experiência em contencioso cível estratégico e direito empresarial.

Diretor de compliance  

O que faz: Trabalha para que a empresa aja de acordo com a lei e regulamentos internos e externos. Está sempre sempre atento aos riscos operacionais e mostra ao mercado que a empresa adota boas práticas.

Perfil: Formação em direito, economia ou administração, com pós-graduação na área de compliance.

Por que está em alta em 2018: Segundo a consultora Camila Badaró, da Salomon, Azzi, as inúmeras operações deflagradas no Brasil impulsionaram como nunca a área de compliance no país. As empresas se viram obrigadas a adotar melhores práticas na condução de seus negócios a fim de evitar futuras sanções e punições, o que explica a valorização do gestor da área.

Gerente jurídico generalista

O que faz: É responsável pela gestão do departamento jurídico das empresas. Responde pelo atendimento das áreas internas e pelas demandas estratégicas.

Perfil: Graduação em Direito, com pós-graduação em Direito empresarial ou contencioso cível, trabalhista e tributário. Inglês fluente é fundamental.

Por que está em alta em 2018: Com a retomada do mercado, as posições de gerência, com viés mais estratégico, voltam a ser demandadas. Como o jurídico das empresas está sendo visto com um parceiro do negócio, diz Badaró, um profissional que traz mais eficiência à gestão corporativa e evita prejuízos desnecessários é naturalmente valorizado.

 

Fonte: EXAME