Um travesseiro que vira manta, uma bolsa de academia que se transforma em toalha de banho ou um porta-laptop com canos reutilizados. Todas essas criações foram feitas por alunos de escolas públicas e privadas que são estimulados desde cedo a empreender. Apesar de o tema não fazer parte do currículo obrigatório da educação básica, escolas e entidades investem em atividades que fazem muito mais do que acelerar a preparação para o mercado de trabalho.

Para a pedagoga Allane de Souza Pedrotti Matos, essas iniciativas vêm ao encontro de uma das missões escolares:

— A escola tem a função de formadora social, além da cognitiva. Quando passamos a trabalhar, aprendemos a nos relacionar, a lidar com as pessoas e que diferentes visões são importantes para a composição de uma equipe.

O Sebrae tem um projeto nacional que oferece capacitação gratuita a professores de escolas públicas e particulares. No programa voltado ao ensino médio, os profissionais, ao voltarem para as salas de aula, se comprometem a desenvolver uma miniempresa com os alunos. Fernanda Lisboa, analista do Sebrae e coordenadora do Programa Nacional de Educação Empreendedora para o Rio, conta que, desde 2010, aproximadamente 400 professores e mais de 2 mil alunos, dos ensinos médio e fundamental, participaram dos programas no Estado.

O trabalho é muito semelhante ao da organização internacional Junior Achievement, que atua no Brasil há 33 anos, hoje em todos os estados.

— Plantar essa semente no jovem desde pequeno, apresentando conceitos e praticando, de forma lúdica, aumenta a possibilidade de sucesso na carreira e na própria vida — explica a diretora-superintendente no Brasil, Bety Tichauer.

Só no Estado do Rio, 20 mil crianças e adolescentes, 85% de escolas públicas, participam dessas atividades anualmente. Em 2015, conta Mariana Carvalho, presidente da Junior Achievement Rio, a entidade assinou um convênio de cinco anos com a secretaria estadual de Educação para que programas de empreendedorismo sejam aplicados nas escolas da rede.

Projeto no Senado

A Escola Viva, de São Paulo, é referência nacional. O tema é trabalhado desde os primeiros anos do ensino fundamental.

— Colocamos os alunos para pensar formas de intervenção no mundo real — explica Marcelo Feitosa, coordenador pedagógico do ensino médio.

Há ainda atividades em parceria com o Sebrae, que vão desde organização de empresas e planos de negócios até apresentação de projetos para bancas que avaliam as propostas a partir da viabilidade financeira e econômica.

Há no Senado um projeto de lei, do senador José Agripino (DEM-RN), que obriga a inclusão do tema nos currículos do ensino médio e dos anos finais do ensino fundamental. No Facebook, o senador postou que o texto está pronto para ser votado na Comissão de Educação.
Fonte: O Globo