Num mundo ainda mal adaptado ao ingresso das mulheres no mercado de trabalho, a velha discussão sobre como conciliar maternidade e carreira continua atual.

No ano passado, a presidente da PepsiCo fez barulho ao dizer que o velho dilema feminino está mais vivo do que nunca.

“As mulheres fingem que podem ter tudo, mas não podem”, afirmou Indra Nooyi, à frente da multinacional desde 2007. “Se você perguntar às minhas filhas, não tenho certeza se elas dirão que tenho sido uma boa mãe”

Chocante para alguns, a declaração é apenas realista na opinião de Vivian Serebrinic, diretora de inovação em produtos para América Latina da Samsung.

Mãe de dois meninos, hoje com 9 e 11 anos, a executiva admite que “nunca existe um equilíbrio perfeito” e que a mulher “sempre sente que está faltando em algum lado”.

Vantagens competitivas
O primeiro filho de Vivian chegou quando ela trabalhava como gerente de comunicação na Ambev. Na época, a notícia foi motivo de grande ansiedade. “Como tantas outras, eu não sabia se continuaria crescendo profissionalmente”, afirma a diretora da Samsung.

A história se repetiu com Luciana Batista, sócia da Bain & Company. O nascimento de suas duas filhas coincidiu com o ápice de sua carreira – a segunda chegou justamente quando ela foi promovida a sócia da consultoria.

Apesar dos receios, Vivian e Luciana dizem que a experiência lhes trouxe uma lição valiosa: a de que maternidade agrega novas competências, e não só em casa.

Veja a seguir alguns diferenciais competitivos das mães no ambiente de trabalho, compilados por elas e outras executivas ouvidas por EXAME.com:

  1. Elas administram melhor o tempo
    Para conseguir passar o máximo de tempo possível com seu filho de cinco anos, Debora Nitta, vice-presidente de planejamento da agência WMcCann se tornou muito mais objetiva e pragmática.

“Aprendi a gerir melhor o tempo e, com isso, me tornei muito mais produtiva”, conta a publicitária. “Hoje entro mais cedo, saio mais cedo e faço muito mais coisas do que conseguia antes de ser mãe”.

  1. Elas enxergam a dimensão real das dificuldades
    Luiza Souza, diretora de marketing da Tupperware, diz que a maternidade também lhe trouxe a capacidade de ver os problemas exatamente do tamanho que são.

“Ganhei muito mais foco no que importa, e deixei de supervalorizar a gravidade de alguns momentos do dia a dia profissional”, conta.

  1. Elas têm ideias “arejadas”
    Vivian Serebrinic, diretora da Samsung, comenta que os filhos também a ajudam a tirar a cabeça do trabalho – o que serve como um ótimo estímulo para a criatividade.

Segundo a executiva, a maioria das inovações surge quando se está fazendo algo completamente distinto do trabalho. Ocupar a cabeça com as crianças, garante ela, é um dos seus segredos para pensar de forma original quando volta ao escritório.

  1. Elas se adaptam à personalidade de cada um
    Luciana Batista, sócia da Bain & Company, diz que aprendeu muito sobre relacionamento e gestão de pessoas com suas duas filhas. “Elas se mostraram completamente diferentes desde muito cedo, uma mais tranquila e a outra mais agitada”, explica.

No trabalho, Luciana ganhou mais flexibilidade e jogo de cintura. Segundo ela, a experiência lhe ensinou uma lição muito clara: em vez de usar a mesma abordagem com todos, é melhor se adaptar a cada personalidade presente na equipe.

  1. Elas escutam (de verdade)
    Graças ao convívio com seu filho, Debora Nitta, da WMcCann, diz que aprendeu a ouvir – uma habilidade tão preciosa quanto rara no mundo do trabalho.

Com os ouvidos abertos, a publicitária diz que se tornou mais empática, generosa e atenta às necessidades de pares, funcionários e clientes.

  1. Elas têm coragem
    “Ser mãe é algo que realmente tira você da sua zona de conforto”, afirma Vivian Serebrinic, da Samsung. “Tudo é um choque, no começo, da necessidade de trocar fraldas à vivência do primeiro banho do bebê”.

Mais surpreendente ainda, relembra a diretora da multinacional, foi perceber que ela era capaz de cumprir a missão. “Quando você percebe que dá conta de um desafio desse tamanho, tudo muda, inclusive no trabalho”, conclui.

Fonte: Exame