Um novo levantamento revelou que as empresas têm tido dificuldade para preencher vagas em tecnologia da informação. Para o cargo de engenheiro de software, por exemplo, quase metade dos postos de trabalho está disponível há mais de dois meses.

O dado chama a atenção num momento em que o Brasil contabiliza 13,3 milhões de desempregados, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o estudo, que analisou milhares de vagas publicadas ao longo do 1º semestre de 2017, a oferta mais abundante se concentra em cargos de programação e desenvolvimento de linguagens como PHP, Java e front-end.

À medida que todas as empresas se tornam digitais, a demanda por profissionais de tecnologia aumenta mais rápido do que a disponibilidade de mão de obra qualificada. Com isso, sobe o número de vagas disponíveis e cresce o espaço para talentos negociarem salários mais altos”.

Veja a seguir os quatro cargos de TI mais difíceis de preencher no momento:

Cargo Porcentagem de vagas abertas há mais de 2 meses
Engenheiro de software 50%
Desenvolvedor full-stack 42%
Arquiteto de software 42%
Desenvolvedor de software 39%

Por que esses 4 cargos são tão difíceis de preencher?

Para Renato Trindade, gerente da divisão de TI da consultoria Page Personnel, o mercado de tecnologia é um dos que menos sofrem com a crise econômica. “Os profissionais de TI representam a menor fatia desses 13,3 milhões de desempregados que existem hoje no país”, afirma.

Porém, o perfil mais procurado na área tem sofrido importantes transformações nos últimos anos.“Aquele estereótipo do programador que fica isolado numa sala e não conversa com ninguém já ficou para trás”, explica.

Agora, as empresas querem uma pessoa que ainda tenha domínio técnico, mas que também apresente competências de relacionamento interpessoal e bons instintos para negócios — uma combinação difícil de encontrar no mercado brasileiro.

Basta ver o caso do engenheiro de software, apontado como o cargo mais complicado de preencher no momento. “As empresas querem alguém com formação técnica forte, mas que também conheça o setor e entenda a cabeça do cliente”, diz Trindade. “Não é tão fácil encontrar essa pessoa”.

O mesmo vale para o arquiteto de software e para o desenvolvedor de software,que aparecem na 3ª e 4ª posições do ranking. Além das competências técnicas, é esperado que tenham sensibilidade e empatia para entender o usuário, além de habilidades de relacionamento para interagir com outros departamentos, como marketing e logística.

Nesse ponto, Trindade faz um adendo: a atividade é cada vez mais interdisciplinar. “Para ganhar agilidade, o trabalho está sendo dividido em etapas mais curtas, tocadas por times bastante heterogêneos”, explica. “Além de se comunicar bem, o profissional de TI agora precisa ter visão de projeto, entender de custos e outros assuntos comerciais”.

desenvolvedor full-stack, que aparece no 2º lugar do ranking, é difícil de encontrar porque há poucos profissionais com esse perfil. “Ele é o desenvolvedor mais completo”, explica o gerente da Page Personnel. “Acumulando funções de front-end e de back-end, ele olha tanto para as necessidades do usuário quanto para os bastidores do desenvolvimento”.

Os profissionais com esse perfil são raros no mercado brasileiro porque a maioria já está empregada — e ganhando muito bem, obrigado. “Os salários para desenvolvedores full-stack estão tão inflacionados que muitas empresas simplesmente não conseguem contratá-los”, diz Trindade.

Fonte: EXAME