Quando não significa desemprego, a crise é sinônimo de estagnação. Quem sobreviveu às ondas de demissões precisou aceitar tarefas adicionais, horas extras e pressão crescente por resultados — tudo isso sem se subir um milímetro no organograma da companhia.

Essa realidade aparece nitidamente em uma pesquisa recente da consultoria Page Personnel, segundo a qual 6 em cada 10 profissionais de áreas técnicas e de suporte à gestão não recebem uma promoção há mais de um ano no Brasil.

O levantamento foi feito entre fevereiro e março de 2017 com 283 entrevistados. A amostra inclui profissionais de áreas como engenharia, finanças, vendas e marketing, logística, operações, recursos humanos, TI, secretariado e varejo.

“O custo fixo crescente, associado à queda na receita, faz com que as empresas cortem funcionários e raramente ofereçam aumentos salariais para os que ficam”, explica Ricardo Haag, diretor da Page Personnel.

Dos quase 60% de profissionais parados no mesmo cargo há um ano, 22,3% também não foram promovidos no ano anterior. Já 15,2% não foram alçados a uma nova posição nos últimos 12 meses, mas tinham recebido a recompensa há dois anos.

Como reagir à estagnação?

A sensação de imobilidade gera desânimo, cinismo e propensão à queixa — reações compreensíveis, mas venenosas para a carreira a curto, médio e longo prazo.

Segundo Haag, os poucos profissionais que conquistam promoções em meio à crise são justamente aqueles que vão na contramão dessa tendência: eles demonstram otimismo, disponibilidade e lealdade apesar da escassez de recompensas.

Agir dessa forma não é garantia de que você subirá no organograma, mas é uma condição essencial para que isso eventualmente aconteça.

“O fator comportamental, sem dúvida, é o mais decisivo para a ocorrência de uma promoção em tempos tão difíceis”, explica. “Quem assume uma postura negativa tende a ser demitido, e quem incorpora uma atitude positiva acaba sendo reconhecido, ainda que não imediatamente”.

Entre aqueles que ascenderam na carreira apesar da crise, 40,9% disseram que o motivo da recompensa foi o fato de terem atingido resultados e superado metas. Uma parcela de 17,3% assumiu novas responsabilidades, enquanto 7,7% investiram em qualificação e 3,6% apostaram em relacionamento com os líderes. A mistura desses fatores foi a resposta de 30,5%.

O fato é recente para cerca de 40% dos promovidos: 26,1% receberam a boa notícia há um ano e 14,5%, há seis meses. De acordo com Haag, a recompensa pode tardar, mas dificilmente falha. “A balança provavelmente vai se equilibrar no curto prazo”, resume. “Assim que a situação melhorar um pouco para a empresa, ela vai correr atrás desses atrasos e promover quem merece”, diz.

Alternativas

Então a paciência é a melhor (ou única) opção para quem está parado há muito tempo nos quadros da empresa?

A resposta é não. Em alguns casos, a busca por movimento é melhor do que a espera. Segundo a pesquisa da Page Personnel, 53,7% dos profissionais estagnados na mesma função pretendem buscar uma nova vaga nos próximos três meses. A caça por uma nova oportunidade será feita entre seis e nove meses por 16%, ou no máximo daqui a um ano por 19,7%.

Os satisfeitos são poucos: apenas 10,6% disseram que não pretendem mudar de empregador.

Os principais fatores para dizer sim a um novo emprego são um salário fixo mensal mais atrativo (29%), programas de aceleração de crescimento (23%), programas de recompensa (18%), investimento em conhecimento (15,2%) e bônus e participação nos lucros (14,8%).

Segundo Haag, a melhor forma de decidir se você deve permanecer no seu  emprego ou sair em busca de uma nova oportunidade é chamar o seu gestor para uma conversa franca sobre o futuro.

“Hoje cada vez mais empresas abrem espaços de diálogo para falar sobre carreira”, explica. “Aproveite esse canal, fale sobre a ausência de promoção e pergunte: ‘Estou devendo algum tipo de entrega para a empresa? Se sim, o que posso fazer para melhorar? Se não, que expectativas posso ter sobre minha trajetória aqui dentro?’”.

A decisão é complexa e deve ser avaliada caso a caso. De qualquer forma, diz Haag, é importante considerar fatores além da remuneração imediata, caso você se decida por abandonar o empregador atual. “Uma promoção ou aumento salarial podem trazer prazer, mas não felicidade”, afirma ele. “O mais importante é tomar decisões estratégicas para conseguir um trabalho com sentido e propósito para você”.

Fonte: EXAME.com