O time de pesquisa do LinkedIn entrevistou 14 mil profissionais de mais de 20 países, entre eles o Brasil, para investigar como as pessoas buscam emprego, hábitos e atitudes e também motivadores para mudar de emprego, já que mais de 7 mil deles fizeram movimentações recentes de empresas.

Para 35% da amostra global, o LinkedIn teve papel significativo na mudança de emprego. No Brasil esse percentual pode até ser maior: a rede social profissional que tinha 6 milhões de usuários em 2011, hoje já bateu a marca dos 30 milhões.

O estudo “O que pensam os candidatos de hoje” mostra que uma entrevista de emprego ruim, por exemplo, é motivo para 65% deles simplesmente desistirem da vaga e perderem o interesse pela empresa.

A importância dada para a experiência do candidato durante um processo seletivo fica mais evidente durante a temporada de recrutamento para os programas de trainee. Gamificação, robôs que ajudam durante o processo de inscrição entre outras novidades são as armas da guerra de talentos.

Hoje em dia, é simples obter informações sobre como uma empresa seleciona seu quadro de funcionários. No fim de agosto, saiu até um ranking das 10 empresas com as entrevistas de emprego que deixam profissionais mais satisfeitos. No topo da lista, com base em mais de 4,7 mil opiniões, a Deloitte com 90% das avaliações indicando experiência positiva. Já em relação ao nível de dificuldade, a Ambev foi a mais citada entre as 10 primeiras colocadas.

De acordo com Milton Beck, diretor do LinkedIn para a América Latina, existem empresas brasileiras que poderiam até “dar aula” de boas práticas de recrutamento para companhias estadunidenses e europeias, mas essas que têm processo sensacionais não passariam de algumas dezenas. “Mas, o Brasil é muito grande e se formos analisar na média ainda estamos muito atrás do patamar da Europa e EUA. A posição de recrutador não é valorizada, muitas vezes são terceirizados e há muita confusão entre marca do serviço/produto e marca empregadora”, diz.

Ele diz que uma das características que distinguem os brasileiros dos demais profissionais é a felicidade em ser contatado por um headhunter. “O brasileiro sempre fica feliz com o contato porque sente que está sendo visto pelo mercado. É muito bom para o ego, ele sente que tem alternativas”, diz Beck.

O estudo mostra também que os profissionais ficam muito mais satisfeitos quando o processo seletivo é breve, com duração de dois a três meses e três entrevistas ao todo. Seleções com muitas reuniões presenciais são cansativas e atrapalham a rotina de quem está empregado.

Em entrevista exclusiva, a VP de comunicação da Uber, Jill Hazelbaker, que antes de trabalhar lá passou pelo Snapchat e Google, reclamou do número de entrevistas de emprego que teve que fazer quando estava participando da seleção para a posição de chefe de comunicação corporativa do Google. “Foi desafiador e me lembro de estar no meio da campanha para tentar reeleger Michael Bloomberg e o pessoal do Google me ligava e dizia: você pode vir aqui para mais uma entrevista? Eu queria muito o emprego, mas também não queria perder o trabalho que eu tinha naquele momento ao tentar conquistar esse novo trabalho”, contou em janeiro a EXAME.

Se o salário continua sendo o principal motivador para aceitar um novo emprego, segundo 45% dos entrevistados, adequação à vaga tendo em vista habilidades e competências e chance de crescimento de carreira têm também forte efeito, com 37% das respostas cada uma. A equipe do LinkedIn retoma também estudos que corroboram a tese de que “a remuneração pode entusiasmar no início, mas não torna o candidato um funcionário leal”.

A partir desses dados e de um compilado de outras pesquisas, o estudo indica truques cientificamente comprovados que um recrutador pode lançar mão no primeiro contato para seduzir um profissional para trabalhar para ele.

Ele não conta tudo para você

Para deixar o profissional curioso, informações sobre salário são omitidas na primeira mensagem. A equipe do LinkedIn diz por exemplo, que ele pode resumir a função na empresa, mas não citar nada que trate do pacote de remuneração. Pode ser efetivo já que o estudo indica que 72% querem essa informação logo de cara. “Quando não sabemos tudo o que queremos, nos sentimos compelidos a buscar as informações que faltam”, diz o texto do relatório da pesquisa.

O diretor do LinkedIn para a América Latina no entanto, fez uma ressalva, em conversa com EXAME: “se o candidato perguntar, o recrutado tem que dizer”, diz. Se a faixa salarial for muito distante da expectativa do profissional, será perda de tempo para o recrutador e para o candidato.

Ele escreve uma mensagem mais pessoal

Da mesma forma que mandar um e-mail frio com o seu currículo e a aquela frase batida “olá, segue currículo anexo” não surte o “encantamento” esperado, uma mensagem igualmente gélida sobre uma vaga não fisga um profissional que esteja minimamente satisfeito com seu emprego atual, segundo Beck.  No relatório da pesquisa do LinkedIn, há uma dica prática.  Eles indicam usar a frase “você tem conhecimento de dispositivos móveis para liderar nossa equipe”, em vez de “eu tenho uma vaga de desenvolvedor com o salário de X.

Mostra que acompanha seu trabalho

Ao mencionar algum aspecto da sua trajetória, o recrutador mostra que fez a lição de casa na pré-seleção de candidatos para aquela oportunidade profissional.  Da mesma forma que um profissional que demonstra conhecer a empresa na entrevista de emprego, o recrutador ao mostrar que acompanha a trajetória daquela pessoa vai certamente causar uma boa impressão.

A equipe do LinkedIn exemplifica como os recrutadores podem fazer isso. Dizer que “a startup que você criou atraiu minha atenção” é melhor que “seu perfil é ótimo”, segundo o texto.

Ele usa bom humor

Jargões e formalidades saem de cena e dão espaço para o entusiasmo e tom divertido. O objetivo do recrutador é que o candidato se lembre dele como um profissional diferente da massa de recrutadores formais justamente por conta da simpatia.

Conexão

Esta é sempre uma dica que headhunters também dão a candidatos que desejam criar vínculo com os recrutadores, e que no fundo é um conselho valioso de networking de modo geral: encontre algo em comum com a pessoa com quem quer estabelecer um vínculo. Por isso, o recrutador que quiser fisgar um candidato pode tentar descobrir pontos em comum como um conhecido mútuo ou uma mesma instituição de ensino no currículo.

Quanto mais diferente for o gosto ou a vivência que os aproxime, mais interessante ele vai parecer aos olhos do profissional, segundo o relatório da pesquisa que leva em conta estudos científicos que revelam que isso ocorre porque nos sentimos parecidos e ao mesmo tempo diferentes dos demais.

Milton Beck, lembra, no entanto, que o mais importante para o candidato é manter um perfil com as palavras chave que permitam que ele seja encontrado facilmente pelo recrutador.

Ele escuta mais do que fala

Nada mais chato do que entrevistador que quer falar mais do que o entrevistado.  O recrutador mais estratégico sabe disso e, dá bastante abertura para o candidato falar sobre o que tem feito de interessante na sua vida profissional, aspirações de carreira. Além de ter informações válidas para descobrir se o candidato combina, de fato, com a empresa em termos de valores, é um jeito de tentar encontrar algum ponto de identificação.

Ao falar ao telefone, pergunte sobre aspirações de carreira, cargo atual e o que os entusiasma. Utilize essas informações para identificar-se de algum modo com o candidato. Escute mais do que fale.

Fonte: EXAME