Muito se tem falado sobre a importância das lideranças em tempos de crise e mudanças contínuas como o que vivemos hoje. Acredito que já esteja mais do que evidente que não podemos mais depositar nossas esperanças nas poucas pessoas que estão no poder – seja no governo, nas empresas ou na sociedade como um todo. É cada vez mais evidente que temos que fazer alguma coisa: não podemos mais ficar parados, esperando passivamente que as coisas melhorem para nós, porque não vão melhorar. As coisas só vão melhorar para quem agir, para quem sair do ostracismo e provocar as mudanças necessárias.

Não estou falando em mudanças de larga escala, como mudar leis ou políticas, mas mudanças dentro do nosso escopo de atuação, no nosso trabalho, na nossa família, na nossa comunidade. Para assumirmos o controle sobre nossos destinos, precisamos desempenhar nosso papel como protagonistas, pessoas que lideram as transformações. E precisamos que essas transformações sejam perenes, significativas, transformadoras, de impacto. Para que você seja o protagonista de sua vida – aquele que vai comandar o seu destino rumo ao futuro que deseja para você e para as pessoas que importam -, é preciso reunir um conjunto de características, habilidades e competências únicas, sendo que algumas contrariam o senso comum sobre liderança. Confira a seguir.

O líder protagonista não é multitarefa Ele não é capaz de realizar várias atividades ao mesmo tempo, como muitos imaginam. Muitas pessoas não se julgam líderes porque se sentem incapazes de realizar mais do que uma tarefa de cada vez. A multitarefa, característica que emergiu na sociedade do conhecimento e da multiplicidade de mídias, pode ser uma habilidade fundamental para quem realiza muitas tarefas. Mas não é uma virtude para líderes. Em vez de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, o líder precisa estar focado em uma coisa de cada vez. Uma característica de sistemas complexos é que eles são influenciados por muitas variáveis ao mesmo tempo. Para navegar nesses sistemas, o líder precisa estar focado, concentrado no problema e conectado com o entorno desse problema. Se estiver disperso, cuidando de temas diferentes ao mesmo tempo, provavelmente vai perder sinais importantes para a compreensão da situação e para a busca de soluções. Muitos destes sinais só surgem para quem estiver imerso no problema, presente de forma integral.

O líder protagonista não é necessariamente inovador Pelo contrário, suas ideias são as que menos importam. O líder transformador precisa valorizar as ideias que surgem pela interação entre a equipe. Seu papel é gerar conexões entre pessoas, de forma a potencializar o surgimento de ideias, insights, reflexões, descobertas e conclusões. Para que ideias criativas surjam, ele precisa provocar, instigar, tirar seus liderados da zona de conforto, incomodar, estimular, questionar, duvidar e, acima de tudo, apoiar as pessoas nas suas tentativas de fazer algo diferente. Inovar é um processo que começa timidamente, mas vai ganhando corpo e qualidade na medida em que as pessoas não se desestimulam com os erros, mas ganham confiança para tentar mais vezes, aprimorando suas propostas até que as boas ideias de fato surjam.

O líder protagonista não necessariamente é reconhecido como líder Às vezes, nem mesmo pelos próprios seguidores. Isso acontece porque o líder não aparece. Quanto mais ele aparece, menos sua equipe tem chances de protagonizar as mudanças. Para o líder, mais importante do que ser visto como líder é fazer as pessoas sentirem que elas também são protagonistas de suas vidas, cada um do seu jeito, no momento certo e dentro da sua competência. Quando as pessoas se sentem empoderadas, elas desenvolvem autoconfiança para conduzir os processos de mudança. O líder, nesse caso, só precisa ajudá-los a direcionar seus esforços em direção a uma causa comum a todos.

O líder protagonista não busca o controle Até porque controle é uma ilusão. Ninguém controla ninguém. O mundo é movimentado por redes, formais ou informais, que interagem entre si – não existe nenhuma hierarquia, portanto ninguém está controlando. Isso é uma loucura, pois desmonta pressupostos históricos sobre como as organizações funcionam. Dessa forma, o líder precisa ter uma postura resiliente, que se acomoda às circunstâncias que surgem no grupo e acompanha o fluxo dos acontecimentos, mas tem a habilidade de direcionar o fluxo para seus propósitos. No final das contas, trata-se de um tipo de controle, mas um controle velado, aceito e compartilhado pelo grupo – e não imposto pela subjugação.

O líder protagonista não ouve a maioria Pelo contrário: se ele quiser fazer algo diferente, a maioria não vai ajudar. A maioria sempre vai pelo senso comum, pelo ordinário, pelo mais fácil. Para inovar e fazer algo realmente diferente, as melhores e mais impactantes ideias e sugestões vem da minoria, dos poucos que conseguem ter perspectivas diferenciadas, com repertórios mais ricos, com vivências e modos de pensar inusitados, que foram expostos a influências diferentes dos demais.

Portanto, se você nunca se viu como líder dentro dos conceitos tradicionais, talvez você se identifique com esse novo tipo de líder, para o qual é mais importante fazer as mudanças acontecerem do que necessariamente ser visto como líder.

Fonte: PEGN