Segundo levantamento, um em cada cinco profissionais agredidos abandona o emprego nos EUA. Entenda como o problema se manifesta no mundo corporativo

Por Claudia Gasparini

Sofrer bullying não é um drama exclusivo de crianças e adolescentes em fase escolar. O problema também atinge adultos – e está virando praga nos escritórios, segundo um novo estudo do site CareerBuilder.

A partir de uma amostra de 3.372 profissionais nos Estados Unidos, descobriu-se que 28% já se sentiram vítimas de agressões no trabalho.

O mal-estar criado por essas atitudes fez com que quase um quinto (19%) deixasse seus empregos.

Mas quando o bullying deixou os pátios das escolas e foi invadir também os ambientes de trabalho?

Para Teresa Gama, diretora da consultoria Projeto RH, o conflito sempre esteve em todos os lugares. “O problema é velho, a novidade é reconhecer que ele também acontece no meio corporativo”, diz ela.

Segundo Teresa, o desconforto trazido pelo bullying é um grande rival da eficiência. Isso porque vivemos um momento de grande interdependência no trabalho. “Nunca precisamos tanto de relações harmônicas para produzir bem”, comenta ela.

Profissionais que têm amigos no trabalho, diz outro estudo, têm mais orgulho de seus empregadores e tendem a recusar outras propostas de emprego.

De olho na produtividade e na lealdade de seus funcionários, mais empresas têm se preocupado com a qualidade das relações travadas entre eles – e o bullying corporativo, afinal, entrou na pauta dos empregadores.

Bullying sutil

De acordo com a pesquisa, as manifestações de bullying mais comuns são receber acusações por um erro que não se cometeu (43%), ter seus comentários ignorados, desqualificados ou não reconhecidos (41%) e ser submetido a uma política diferente da praticada com os demais colegas (37%).

Segundo Teresa, o bullying pode assumir formas diversas – algumas mais sutis do que outras. Violência verbal, piadas de mau gosto ou brincadeiras com alguma fragilidade do outro são exemplos de desrespeito explícito, que pode até ser documentado.

Se o problema aparece em atitudes concretas, fica mais fácil exigir uma providência. “Você consegue conversar com o agressor ou mesmo, se todas as tentativas se esgotarem, levar o problema para o gestor ou para o RH”, diz Teresa.

“Mas o que acontece se rotineiramente todo mundo vai almoçar e não chama você, por exemplo?”, pergunta a diretora da Projeto RH. O profissional deixado à margem, excluído das rodas de conversa, tem menos recursos para justificar uma reação.

“Essa é a situação mais cruel, porque não há nenhuma evidência palpável para mostrar que você está sendo agredido”, diz Teresa.

Chefes também são alvo

Segundo a citada pesquisa do CareerBuilder, as minorias costumam ser os alvos mais comuns do bullying nas empresas: 44% dos deficientes físicos, 34% das mulheres e 30% dos LGBTs já sofreram algum tipo de agressão no trabalho.

Ainda assim, o problema não é exclusivo desses grupos. Profissionais com cargos de nível gerencial, como diretores e vice-presidentes, correspondem a 27% daqueles que se disseram alvo de bullying no trabalho. Para efeito de comparação, 26% têm nível júnior ou ocupam cargos administrativos e 21% estão em postos operacionais ou técnicos.

Segundo Teresa Gama, da Projeto RH, o dado indica que a questão não pode ser simplificada como um abuso de poder facilitado pela hierarquia.

“Deve-se também pensar na situação da chefe mulher, cuja autoridade muitas vezes é questionada por quem é machista, e que acaba tendo que lidar com algum tipo de desrespeito”, acrescenta.

Fonte: Exame.com