A diferença salarial entre homens e mulheres no mercado de trabalho assusta. Eles recebem até 30% mais para realizar as mesmas tarefas. Segundo o Fórum Econômico Mundial, as mulheres só terão igualdade neste campo em 2095. Algo parecido ainda acontece no mundo das startups. As mulheres fundam menos empresas, ocupam poucas posições de liderança e recebem menos investimentos.

Um estudo recente feito pela firma de investimento Female Founders Fund mostrou que apenas 8% das startups que receberam investimento no Vale do Silício no ano passado eram lideradas por mulheres. O percentual está 30% abaixo dos resultados do ano anterior.

Outro estudo, da Catalyst, mostra o fato mais contraditório: elas conseguem mais sucesso para as empresas: uma mulher fundadora aumenta em 50% a possibilidade de sucesso de uma startup. “Isso acontece porque as mulheres trazem pontos de vista diversos, que ajudam os negócios a crescer mais rápido. Ter mais mulheres empreendedoras e investidoras faz diferença”, diz Maria Rita Spina, diretora executiva da Anjos do Brasil, organização que reúne investidores-anjo.

Aos poucos, no entanto, as mulheres vão ocupando espaço no mercado de startups, como empreendedoras e investidoras, e provando que tecnologia é, sim, coisa de menina. “Elas estão cada vez mais se unindo para terem grupos com os mesmos interesses e aumentar suas motivações. Por isso, como investidora, eu faço um esforço para atrair mais mulheres para essa área”, diz Camila Farani, presidente do Gávea Angels e co-fundadora do grupo Mulheres Investidoras Anjo (MIA).

Um dos resultados concretos dessa união de mulheres foi o investimento do grupo na startup 33/34, especializada em sapatos para mulheres com pés pequenos. Segundo Tania Luz, fundadora da startup, a aproximação com as investidoras facilitou o aporte. “Eu particularmente não vejo diferença entre receber investimento de homens ou mulheres. Eles, de modo geral, são mais voltados para resultado final e as investidoras entendem mais o caminho. Neste caso, foi mais simples porque as mulheres entenderam mais rapidamente meu modelo de negócio”, diz Tania, que tem também investidores na plataforma.

O bom relacionamento com investidores homens também ajudou a consolidar a Trustvox, fundada por Tatiana Pezoa. “Tenho um board de investidores-anjo e todos são homens. E, por incrível que pareça, sempre tive muita facilidade com eles. Mas, o preconceito a gente sempre sente. A gente tem que estar sempre se provando. Todo santo dia. Meu pai me dizia que, pelo fato de ser mulher, as pessoas me avaliariam mais do que a um menino”, diz.

O que foi simples para Tania e Tatiana não funcionou para Mariana Vasconcelos, CEO da Agrosmart, startup que auxilia na gestão de fazendas. Durante uma viagem ao Vale do Silício, Mariana participou de um evento de startups em que era a única mulher durante uma rodada de negócios. “Os investidores não paravam na minha mesa. Eles simplesmente pulavam para a próxima”, conta.

Formada em administração, Mariana, 25 anos, é filha de produtores rurais e empreende desde 2011. No ano passado, ela foi selecionada entre mais de 500 pessoas para representar o Brasil como bolsista na Singularity University, centro de estudos da Nasa, no Vale do Silício.

A empresa, que tem como sócios Raphael Pizzi e Thales Nicoleti, foi escolhida pelo Google para receber um investimento e participar do programa Launchpad Accelerator. “Eu já sofri muito com preconceito, principalmente no começo. É muito comum ser a única mulher nos eventos. E isso faz com que a gente sempre fique um pouco isolada. Não podemos deixar isso nos parar”, diz.

Para ela, o caminho está em criar mais modelos femininos no ambiente de negócios. “É preciso que as mulheres que estão à frente de startups apareçam, contem suas histórias e que tenham mais eventos sobre o assunto. Isso começa com a gente mesmo, não podemos esperar que os outros mudem”, afirma Mariana.

Criar modelos e escancarar o tema é a missão de Camila Achutti, fundadora e CTO da Ponte 21 e do curso de programação MasterTech. Formada em Ciências da Computação, Camila, 24 anos, assumiu a bandeira de convencer mulheres e crianças de que a programação não é um bicho de sete cabeças. “Mais de 60% das pessoas que participam do MasterTech são mulheres.  A grande mudança foi simplesmente mudar o discurso. Não trabalhar a tecnologia como fim, mas como um meio de transformação”, diz Camila.

Para ela, é hora de tratar meninas e meninos como iguais desde a escola. “A escola não trata igual meninas e meninos na aula de matemática, por exemplo. Acho incrível ter mulheres empreendedoras, mas se não tiver trabalho de base, no colégio e na graduação, não teremos o desenvolvimento que queremos”, afirma Camila.

Fonte: PEGN