A crise econômica tem consequências muito concretas: não faltam números e estatísticas sobre negócios que fecharam as portas ou pessoas que perderam seus empregos como resultado das turbulências vividas pelo país.

Já outros efeitos da recessão, ligados a fatores emocionais, são menos palpáveis. “A frequência das demissões cria ‘fantasmas’”, diz Ricardo Ribas, gerente da consultoria. “Existe um clima de pânico, muitas vezes infundado, de que qualquer um pode ser desligado a qualquer momento”.

Segundo uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o medo do desemprego nunca foi tão alto no Brasil. Em junho de 2016, o indicador alcançou o maior nível desde 1999, quando começou a ser medido pela instituição.

Não demora para que o receio de ser o próximo da lista se transforme em paranoia: até um “bom dia” ignorado pelo chefe, por pura distração, pode incutir no funcionário a falsa certeza de que o pior se aproxima.

Segundo Ribas, é preciso resistir à mania de perseguição, inclusive para salvar o seu emprego. “Um funcionário preocupado demais com a possibilidade de demissão fica desmotivado e improdutivo, o que ironicamente pode acarretar o seu desligamento”, diz.

Para evitar que o medo alimente a ameaça, é importante distinguir situações imaginárias de evidências concretas — tudo com a óbvia ressalva de que é impossível prever o futuro, afirma Isis Borge, gerente de consultoria.

Para começar, diz ela, faça uma avaliação do seu ambiente. Como vai a saúde financeira da empresa onde você trabalha? Qual tem sido a frequência das demissões? Elas são pontuais ou atingem departamentos inteiros? Os cortes são motivados pelo baixo desempenho desses funcionários ou servem para enxugar os custos fixos do negócio? As respostas podem indicar se os desligamentos são pontuais ou se refletem uma onda que pode chegar até você.

“O sinal é mais grave se os cortes se sucedem, mas os resultados da companhia não melhoram”, diz Ribas. Se há mudanças estruturais à vista, como aquisições ou fusões, também é importante ficar alerta, já que muitas vezes elas acarretam dispensas de pessoal.

Dito isso, nem sempre a demissão é resultado de fatores externos: em muitos casos, o problema está no seu desempenho. “A cobrança por resultados é muito maior na crise”, afirma Borge. “Se você não tem conseguido atingir suas metas ou cometeu um erro muito grave, é bom ficar esperto”.

Prestar atenção à frequência das avaliações negativas também é essencial. Não é preciso se desequilibrar com qualquer crítica, mas é razoável se preocupar com feedbacks a respeito do seu trabalho que não melhoram com o tempo. Afinal, a paciência das empresas com funcionários de baixa performance anda cada vez menor, diz Ribas.

Outros pontos de atenção são o tamanho da equipe e o seu posicionamento em relação aos seus colegas. “Verifique se existe ociosidade, isto é, se o escritório está muito cheio e falta serviço”, diz. “Também é importante avaliar os seus diferenciais em relação aos outros, isto é, se você tem competências únicas, que tornam você alguém imprescindível”.

Como ter certeza?
A maior parte das empresas dá pistas bastante claras para o funcionário prestes a ser demitido. No entanto, diz Borge, as evidências são um pouco mais sutis em alguns casos.

Você deixou de ser chamado para reuniões das quais sempre participou? Não está sendo atualizado sobre novos projetos? As pessoas estão “pulando” você e indo falar diretamente com os seus subordinados? De forma geral, o escopo das suas atividades está diminuindo?

Caso a resposta seja positiva, vale ficar atento. Afinal, em meio à crise econômica, as pessoas costumam receber mais tarefas, e não menos: se você está sendo “poupado” de trabalho enquanto todos os outros estão sendo mais exigidos, talvez exista algo de errado.

É claro que há muita subjetividade em todas essas percepções — e, por isso, a melhor forma de diferenciar paranoia de realidade é buscar uma conversa franca com o seu chefe sobre o futuro do seu emprego.

“Se você construiu uma relação de amizade e confiança com o seu gestor, seja sincero e pergunte diretamente para ele se há chances de você ser demitido”, diz Borge. Na melhor das hipóteses, você será tranquilizado de que está tudo bem; na pior, ganhará tempo para planejar seus próximos passos.

Confirmada ou não, a ameaça da demissão pode ser um estímulo valioso para refletir sobre a própria carreira, segundo Ribas.

“A necessidade de se tornar relevante para evitar um desligamento faz muita gente investir em qualificação, assumir novas responsabilidades e galgar posições na empresa”, diz ele. “Também é momento privilegiado para reavaliar suas escolhas, considerar novos empregadores e até outras áreas de atuação”.

Fonte: Exame.com