Não restam dúvidas de que quem tem fluência em um ou mais idiomas estrangeiros conquista as melhores oportunidades, e consequentemente, se destaca no mercado de trabalho. O problema é que entre dizer que possui fluência e comprová-la no dia-a-dia, há uma grande diferença.

Por causa da falta de domínio do idioma, muita gente acaba passando por situações constrangedoras no momento da entrevista de emprego, ou mesmo depois dela, quando já se encontra dentro do ambiente corporativo e tem que escrever um e-mail, fazer uma apresentação ou conduzir uma reunião em outro idioma.

O Brasil Econômico consultou três especialistas no assunto para descobrir como os profissionais podem enfrentar as principais dificuldades em situações como essas, em que a fluência no inglês, se faz necessária.

1. Currículo

A primeira coisa que se deve ter em mente é que mentir sobre o nível de proficiência na língua inglesa, seja na entrevista, seja no currículo, pega muito mal. Além disso, já é sabido que mentira tem perna curta. Se você coloca no currículo que fala inglês de maneira avançada e não consegue responder com fluidez duas ou três perguntas durante a entrevista, pronto. Você foi desmascarado.

“O entrevistador vai perceber que ele mentiu”, diz Marilena Fernandes, supervisora acadêmica da Associação Alumni. “A melhor opção é ser sincero, porque o entrevistador pode até admitir certas falhas se souber de antemão que o inglês do candidato não é fluente ou avançado”, completa.

Em segundo lugar, o profissional deve dominar o conteúdo do seu currículo e estar preparado para descrevê-lo inteiramente em inglês. Faça gravações de como você descreveria suas atividades profissionais, acadêmicas e informações pessoais.

2. Entrevista

Antes de mais nada, tente aprender as regras culturais e as dinâmicas sociais de diferentes países. Muitas das gafes cometidas estão relacionadas a diferenças culturais e não necessariamente ao uso da língua, explica Vinicius Nobre, gerente acadêmico da Cultura Inglesa.

“Diferentes contextos e culturas requerem diferentes níveis de formalidade, tanto na escolha das palavras, quanto no uso de contrações e tipos de interação. Busque compreender melhor as regras sociais e culturais do contexto onde você está inserido”.

Em outras palavras, seja pontual! Multinacionais não admitem atrasos.

Nada de beijos e abraços. “É muito comum as pessoas apenas darem as mãos, mas há empresas em que candidatos e entrevistadores se cumprimentam apenas com um movimento de cabeça”, alerta Débora Schisler, Diretora Pedagógica da Seven Idiomas.

Chegou atrasado? Não deixe de pedir desculpas e permissão para entrar. Os verbos modais vão dar o tom da delicadeza, então não tenha vergonha de dizer “I am sorry, I am late”, “May I come in?” Chegar atrasado a um compromisso e não pedir autorização para participar da reunião que já está em andamento é uma enorme demonstração de falta de educação.

Não entendeu o que lhe foi perguntado? Jamais diga “Hã?”.  As palavras que você usa também podem demonstrar o quão cortês você é. Prefira “Sorry”, ou “Excuse me?”. Nenhum candidato quer causar má impressão logo na entrevista, não é?

Agora sim. Sigamos para o uso do idioma durante a entrevista. Prepare-se para antecipar perguntas clássicas, pensando no vocabulário necessário para as respostas e estruturas que podem transmitir maior precisão de informações, aconselha Nobre.

“Conte um pouco sobre você”; “quais são os seus pontos fortes o seus pontos fracos”; “descreva sua experiência anterior” e “como você pode contribuir para o sucesso da empresa”, são questões recorrentes, para as quais você pode se preparar com antecedência. Ou seja, familiarize-se com o jargão e a linguagem técnica para poder descrever as funções pertinentes aos cargos que já exerceu em inglês. Para isso, leia bastante sobre a sua área de atuação e assista a palestras em vídeo, como os TED Talks.

Mas se você não tiver certeza se as repostas estão corretas, escreva-as e peça para que alguém que domine o idioma as revise. “Treine em voz alta, e, se puder, até grave a voz para detectar possíveis falhas na pronúncia e na entonação, e chegar na entrevista o mais confortável e confiante possível”, sugere Fernandes.

Também é importante manter a linguagem simples e objetiva. Esqueça vocabulários e estruturas rebuscadas para diminuir as probabilidades de cometer erros. “Você não está se candidatando a uma vaga para professor de inglês ou linguista, então fale de maneira simples e seja objetivo”, explica a supervisora Acadêmica da Associação Alumni.

Já vimos que não há problema algum em pedir para que o entrevistado repita uma pergunta, desde que o candidato o faça de maneira educada. Pedir que o entrevistado parafraseie a pergunta é, inclusive, uma estratégia muito bem vista.

Os falantes nativos são mais propensos a relevar erros do que os brasileiros que dominam muito bem a língua inglesa, porque eles sabem como é difícil falar um idioma estrangeiro e se colocam no lugar do candidato. Então, não esqueça: é melhor checar o que foi perguntado do que cometer uma gafe de dar uma resposta incoerente ou inapropriada.

E por fim, mas não menos importante: cuidado com a tradução ao pé da letra e com os falsos cognatos.

“Soube do caso de um aluno que, ao término da entrevista, caiu no choro depois de o entrevistador dizer que a conversa havia sido ‘terrific’. O entrevistador havia dito que a entrevista havia sido formidável, mas o candidato entendeu que havia sido terrível”, lembra Schisler.

3. E-mail

Você passou pela etapa da entrevista e conseguiu o emprego dos sonhos. Agora que está contratado, se depara com o desafio de escrever um e-mail em inglês. E agora?

A primeira dica que você deve ter em mente é: escreva orações completas, mas curtas.  Frases longas comprometem bastante o entendimento do que está sendo dito, especialmente para o estrangeiro.

Você pode ativar o corretor (nesse caso, escolha entre o britânico e o americano e use sempre o mesmo) e até usar o tradutor automático, mas nunca confie 100% nele. Ele sempre pode causar alguns constrangimentos. Por isso, além de ser cuidadoso com o vocabulário, seja cuidadoso com a ortografia e o uso dos tempos verbais.

“Sempre revise seus e-mails, fica muito feio mandar algo que está escrito de forma incorreta. Os brasileiros não costumam prestar muita atenção aos tempos verbais, e o efeito disso pode ser muito negativo. Quem recebe o e-mail fica com a impressão de que a mensagem não foi cuidadosamente escrita”, explica Fernandes.

Esteja também atento ao grau de informalidade que existe entre você e o destinatário. Nunca termine um e-mail formal com beijos e abraços. Ao invés disso, use saudações como “Regards”, “Best wishes” ou “Sincerely”.

Agora se você não quiser quebrar muito a cabeça, sempre existe a possibilidade de trabalhar com modelos de e-mails já existentes. “Dê uma olhada em e-mails enviados por pessoas com quem você se relaciona – colegas de departamento ou mesmo o seu chefe – e que você sabe que dominam o idioma e use-os como modelo para desenvolver seu próprio conteúdo. Ou então, procure na própria internet modelos de e-mails e relatórios prontos, assim você só precisa inserir suas informações”, aconselha Fernandes.

4. Reuniões e apresentações

Com certeza, você vai se deparar com situações em que terá que conduzir reuniões e negociar com sócios e colegas de trabalho. Novamente, você vai precisar de repertório – e aqui, se entende não apenas a linguagem técnica pertinente a cada área de atuação, mas também a linguagem apropriada para conduzir um debate de forma apropriada. Nesses casos, torna-se indispensável o uso de expressões chaves como “I see your point of view/I understand, but…” para discordar de uma ideia, “I would like to hear your point of view/your thoughts about this…” para conhecer a opinião de um participante, ou “Let’s open to discussion now” para colocar questões em debate.

As apresentações também não dispensam expressões como essas para que o palestrante cumprimente ouvintes, introduza tópicos, indique transações de assuntos e abra espaço para perguntas.

Nessas circunstâncias, o apresentador não pode abrir mão de sentenças como:

“ In today’s presentation, I would like to show you…”,

“ If you have any questions, feel free to ask”,

“Feel free to interrupt me if you have any questions” ou “I will take questions at the end of the conversation”, “Now, I would like to talk about…” ou “This leads to the next point…”

“Thank you very much for listening. If you have any questions I will be glad to answer…”

Você domina a linguagem técnica e as expressões que devem ser usadas em uma boa apresentação. O próximo passo é treinar. Ensaie em voz alta e grave-se em vídeo para corrigir não apenas erros no idioma, mas também a linguagem corporal.

A pronúncia é especialmente importante. “Principalmente em palestras mais longas, onde erros grandes de pronúncia podem causar um grande ruído na comunicação porque as pessoas param de prestar atenção no que você fala para prestar atenção em como você fala”, alerta Fernandes.

Percebeu que não tem certeza sobre a pronúncia de uma dada palavra durante os ensaios? Digite a palavra em um dicionário online e ouça atentamente como ela é dita.

Evite vícios de linguagem, como “so”, “then”, e “ok”, e esteja atento a expressões usadas na conclusão de exposições para não traduzi-las ao pé da letra.

“Muitas pessoas costumam finalizar uma apresentação com ‘Is this’ e veem a boa apresentação que haviam feito descer pelo ralo. Nunca termine com “Is this”, o correto é “That’s it””, esclarece Fernandes.

Não esqueça que a linguagem que deve ser empregada na apresentação tem que ser correspondente com o seu público. Portanto, identifique a sua plateia e escolha o vocabulário mais apropriado para se comunicar com ela. Isso deve ser feito antes da apresentação para que não haja constrangimentos.

Se ainda assim, você se sentir inseguro, faça a apresentação, com antecedência, para alguém que domina o idioma, um colega que tem mais conhecimento, ou mesmo um professor de inglês, para que você não seja prejudicado por nenhuma gafe ou mal entendido.

Fonte: IG – Economia