A Organização Mundial do Trabalho desenvolveu o Solve, que é um manual de treinamento com o objetivo de prevenir riscos psicossociais e promover a saúde e o bem-estar no trabalho.

Ansiedade, dores musculares, mau humor, dificuldade para se concentrar. Se você está empregado ou já trabalhou, é grande a chance de ter experimentado alguns desses sintomas, ou mesmo todos. E é bem possível que a causa deles seja o estresse

“Ter estresse não é natural”, afirma a professora  Selma Lancman, do departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP. “Ele já contém a ideia de que [a pessoa] ultrapassou o seu limite e perdeu a capacidade de superar naturalmente essa sobrecarga”.

Um eventual dia difícil e mais puxado pode surgir na vida de um profissional, mas a repetição disso é um sinal de alerta.

É necessário estar atento à frequência e banalização do estresse, quando a sobrecarga vira rotina e fica cada vez mais difícil transformar o sofrimento que enfrentou durante uma tarefa em prazer pela conquista após realizá-la.

Causas do estresse

A Agência Europeia de Segurança e Saúde no Trabalho aponta entre as principais causas de estresse a sobrecarga, a dificuldade de balancear a vida pessoal e profissional e a insegurança, com o medo de perder o emprego, por exemplo.

Principais causas de riscos psicológicos

  • Insegurança no trabalho

Sensação de insegurança causada, por exemplo, por contratos precarizados

  • Intensificação do trabalho

Longas jornadas de trabalho e sobrecarga de tarefas

  • Vida pessoal empobrecida

Dificuldade para balancear vida profissional e pessoal

  • Altas demandas emocionais

Assédio moral e bullying são alguns exemplos

  • Envelhecimento da força de trabalho

Condições de trabalho não adaptadas a pessoas mais velhas

Fonte: European Agency for Safety and Health at Work

Para Natasha Patel, diretora da Hays, empresa especializada em recrutamento, uma das principais causas de estresse na atualidade são as metas e o volume de trabalho imposto aos profissionais.

Essa também é a visão de Selma Lancman. “Os sistemas de metas e avaliação individual de performance são os grandes trituradores da saúde mental das pessoas. Elas estão sempre trabalhando além do limite e isso destrói a possibilidade de cooperação [entre colegas]”.

Reconhecer o problema pode ser difícil

Erica Macedo, supervisora da consultoria de carreiras Thomas Case & Associados, afirma que pode ser difícil para o trabalhador reconhecer ou mesmo admitir que está com o problema. “Quando isso acontece, pode ser tarde e já está em um estágio que precisa procurar ajuda profissional, como terapia”, afirma.

Segundo a professora Selma Lancman, transtornos mentais, como depressão e alcoolismo, são a terceira causa de afastamento no trabalho entre os segurados do INSS. O estresse é apontado pela Organização Mundial do Trabalho como uma das causas desses problemas.

O trabalho de investigar se está estressado e o que causa isso é pessoal, afirma Natasha Patel. “Cada profissional deve sentar e entender a situação para pensar em soluções. Depois pode tentar conversar com o chefe, por exemplo”.

Para Selma Lancman, as receitas prontas, como atividade física, pausa para um cafezinho ou a ginástica laboral no escritório, não são soluções porque atacam os sintomas, e não a causa.

“As empresas estão indo no sentido contrário ao tentar adaptar o trabalhador ao trabalho, e não o trabalho ao trabalhador”, afirma. Por isso, segundo ela, se o que gera estresse é a sobrecarga, por exemplo, os gestores devem redistribuir melhor o trabalho ou contratar mais funcionários.

10 dicas para enfrentar o estresse no trabalho

A Organização Mundial do Trabalho desenvolveu o Solve, que é um manual de treinamento com o objetivo de prevenir riscos psicossociais e promover a saúde e o bem-estar no trabalho. Veja 10 dicas do manual para enfrentar o estresse no trabalho.

  1. Conheça suas próprias reações ao estresse e as utilize como sinais de alerta.
  2. Tente descobrir o que causa o estresse. Pode ser o próprio trabalho, mas também problemas familiares, situação financeira ou a sua própria cobrança sobre si mesmo. Avalie se é possível mudar as condições que causam o estresse.
  3. Algumas causas de estresse podem ser triviais, algo que será esquecido em pouco tempo. Não superestime pequenos problemas, que não pedem muita atenção e energia. Algumas coisas são cansativas, mas não são desastres.
  4. Não se preocupe demais com o que pode acontecer no futuro. Muitas das previsões ruins podem não se concretizar, e você vai ter se preocupado sem necessidade.
  5. Quando encontrar um problema que não pode solucionar, não dê murro em ponta de faca. Tente aceitar o inevitável e se prepare. Depois você pode até sentir que não foi tão ruim quanto imaginava.
  6. Procure compensar os problemas de outras formas. Faça coisas divertidas com a família se o trabalho está difícil, ou tente aproveitar a vida profissional se está com dificuldades particulares.
  7. Encontre apoio social em amigos e colegas, dividindo o peso que está carregando.
  8. Seja realista ao traçar metas. Estipule objetivos parciais e não tente enfrentar problemas impossíveis.
  9. Tente controlar sua vida. Desenvolva o controle sobre si e sua vida diária, mude o que precisa ser alterado e aceite o que não pode mudar, compense o que é desagradável e aprenda a apreciar o que está bem.
  10. Se ainda assim não se sentir bem, procure ajuda de um profissional, como um médico.

Por Ricardo Marchesan / Fonte: UOL