Mais de um terço da população do Espírito Santo está fora do mercado de trabalho e não busca uma colocação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No total, 1,2 milhão de pessoas de 14 anos ou mais (cerca de 38,5% da força de  trabalho de todo o Espírito Santo) estavam fora da força de trabalho, no segundo trimestre de 2016 – quem está sem trabalho e em busca de um, é considerado desocupado ou desempregado.

Chama atenção que a maior parte do primeiro grupo, ou 66,4%, é formada por mulheres: 797,5 mil contra 403,5 mil homens, revela o IBGE. Fazem parte dessa realidade aposentados, quem se dedica somente aos estudos e pessoas que cuidam da casa e dos filhos.

Entre os que estão fora da força de trabalho, 64% têm entre 18 e 59 anos, 17,4% têm  de 14 a 17 anos e 35,9% têm 60 anos ou mais. Com relação à escolaridade, 53,7% não têm instrução ou não terminaram o ensino fundamental.

Mas o desequilíbrio de gênero tem um componente cultural quando se revelam os motivos  de  estar fora da força de trabalho: 36,3% das mulheres fora da força não trabalham porque têm que cuidar dos afazeres domésticos, de filhos ou de outros parentes. Entre os homens, apenas 3,2% alegam este motivo. Em números absolutos, são 289 mil mulheres que deixam de trabalhar para cuidar da casa, de filhos ou de parentes contra 13 mil homens.

Por problema de saúde ou gravidez, 69,2 mil homens (17,2%) e 76,4 mil mulheres (9,6%) estão fora do mercado. Por não querer trabalhar, são 37,7 mil homens (9,4%) e 49 mil (6,2%) mulheres.

A baixa escolaridade e o cuidado com os filhos e a casa fizeram Ednéia Conceição de  Souza, de 40 anos, desistir de  trabalhar fora. Quando criança não estudou, o que tentou fazer já adulta, mas a distância da escola para sua casa a desanimou. Antes de casar, ela chegou a ser babá e doméstica, mas foi demitida.

Enquanto vivia com o marido, hoje falecido, cuidou da casa e dos filhos. Em um período mais difícil, precisando trabalhar, conseguiu uma colocação em casa de família, no entanto não saber ler e escrever lhe custou o emprego.

“Tem uns 10 anos que eu não trabalho. Sem saber ler ou escrever fica difícil encontrar emprego. Já perdi   trabalho  por causa disso, pois não conseguia receber e assinar correspondências. Hoje fico em casa cuidando dos meus dois filhos menores e do meu neto. Vivo da pensão do meu marido”, contou.

Retorno ao setor produtivo
O grupo de 1,2 milhão de pessoas no Espírito Santo que estão fora da força de  trabalho é heterogêneo e engloba cerca de 231 mil estudantes e 295,4 mil aposentados. Além disso, 289,6 mil mulheres que ficam em casa para cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos ou de parentes.

Mas, segundo a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Luiza Neves de Holanda Barbosa, a taxa de não participação no mercado de trabalho tem sofrido uma leve redução.

“A tendência das mulheres é maior que a dos homens de sair da não participação. Elas estão migrando para a força de trabalho”, explicou.

Ana Luiza disse que tanto a participação no mercado de trabalho quanto a ausência estão bastante associadas ao gênero e situação familiar da pessoa.

“O filho sobrecarrega, por questões socioculturais, mais mulheres que homens. Pelos dados do IBGE, as mulheres trabalham mais em casa que os homens. Outro motivo para a não entrada no mercado, certamente, é a educação. Mas o fato de a mulher ter filho e ficar sobrecarregada com atividade doméstica, isso é uma barreira que impede a entrada da mulher no mercado”, falou.

Para a pesquisadora da OPE Sociais, Danielle Nascimento, o grande problema desse contingente está nas 645,2 mil pessoas que não chegaram a completar o ensino fundamental.

“Em um contexto de crise, já é difícil a reinserção no mercado de trabalho. Se a pessoa não tem preparo, é ainda pior”, destacou.
Casamento e gestação precoces ou cuidar de pessoas da família são algumas razões, segundo Danielle, que levam mulheres a abandonar estudos e terminarem com baixa escolaridade.

Para o economista Marcelo Loyola, por um lado é preciso se preocupar com quem não tem escolaridade e está à margem do mercado de trabalho. Por outro lado, mulheres que optam por cuidar da família podem trazer benefícios para a sociedade.

“É uma situação que acaba contribuindo para a sociedade, principalmente na questão social, pois ela ajuda os filhos nas tarefas escolares e contribui para aumentar a qualificação dele. Filhos que têm pais acompanhando nas tarefas escolares tem melhor desempenho na escola, o que pode aumentar a produtividade do país”, falou.

Fonte: G1