A pouco mais de dois meses de a reforma trabalhista entrar em vigor no Brasil, um estudo da Universidade de São Paulo (USP)mostra que os impactos da terceirização no mercado de trabalho. De acordo com o estudo “Diferencial de salários da mão de obra terceirizada no Brasil”, de autoria dos economistas Hélio Zylberstajn (FEA-USP), Eduardo Zylberstajn (EESP-FGV) e Guilherme Stein (Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser), o trabalhador que passou para uma empresa terceirizada teve uma perda salarial média de 2,3%.

Para se chegar ao número, explica Hélio Zylberstajn, foram utilizados os dados de cerca de 13 milhões de trabalhadores contidos na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, entre 2007 e 2014. Foram analisados os movimentos de pessoas que saíram do contrato direto para assumir função semelhante em uma prestadora de serviços. O levantamento foi publicado na revista “Estudos Econômicos”, da USP.

“O objetivo do estudo é mostrar que há um discurso alarmista sobre a terceirização a cerca de dois meses de a nova reforma trabalhista entrar em vigor. Terceirização não é precarização. Fizemos esse levantamento e tomamos o cuidado de comparar dados semelhantes. E percebemos uma queda média de 2,3% no salário quando o trabalhador passa a ser terceirizado”, diz Zylberstajn.

Contingente de 3 milhões

Segundo o economista, há uma generalização feita pelas centrais sindicais de que a terceirização reduz os salários em 25%, o que, garante, não é verdade. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, é contra a terceirização. Por outro lado, o estudo mostra que quem deixa de ser um prestador de serviço em uma empresa terceirizada e é contratado diretamente registra ganho salarial médio de 4,7%.

O estudo mostra ainda, ressalta Zylberstajn, que apenas 6% dos cerca de 50 milhões de trabalhadores formais são terceirizados atualmente: “Ou seja, são 3 milhões de pessoas. E não 13 milhões, como vem sendo dito pelos sindicatos. Muito do que se fala de terceirização é exagerado”.

Qualificação

O estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) revela que os efeitos da terceirização variam de acordo com o setor analisado. Segundo o economista Hélio Zylberstajn, da FEA-USP e um dos autores do levantamento, em segmentos onde o nível de qualificação exigido do trabalhador é maior, as diferenças salariais para quem passa a ser terceirizado tendem a ser menores.

O setor de pesquisa e desenvolvimento é um exemplo. Pela pesquisa, quem passou a prestar os serviços em uma empresa terceirizada viu o rendimento cair 2,47%. Já no caso do telemarketing, o recuo chega a 8,81%.

“Quando se observam os setores, a diferença dos salários está relacionada ao grau de qualificação. Em linhas gerais, quanto maior esta, menor a diferença entre os rendimentos”, destaca Zylberstajn.

“Aumentar a produtividade”

O estudo “Diferencial de salários da mão de obra terceirizada no Brasil” traz ainda outros quatro setores analisados. No caso de segurança/vigilância, a terceirização elevou o salário em 4,94%. Para os trabalhadores de montagem e manutenção de equipamentos, a terceirização reduziu o salário em 5,94%. Percentuais semelhantes de queda foram observados nos setores de limpeza e conservação (5,95%) e tecnologia da informação (5,48%).

“Com o aumento esperado da terceirização (com a reforma trabalhista), é possível acreditar que essas diferenças possam cair a partir de agora. Mas tudo vai depender do setor. Até hoje a terceirização não precarizou o trabalho. Ela é bem-vinda se aumentar a a produtividade.”