Provavelmente, você já se deparou em sua carreira com processos seletivos (e contratações) sem sentido: desde a análise de currículo até a dinâmica e a entrevista pessoal, não é sempre que as empresas acertam na avaliação e conseguem a melhor pessoa para a vaga.

Isso é ruim não apenas para quem não foi selecionado: para grandes corporações, é uma imensa dor. Não só o novo contratado não irá desempenhar à altura, mas também sua falta de aderência à cultura da empresa pode provocar uma saída abrupta – e novos gastos com processos de seleção e treinamento.

Foi o que percebeu a empreendedora Mariana Dias: por isso, ela se uniu ao irmão Guilherme Dias e aos colegas Bruna Guimarães e Robson Ventura para criar a startup Gupy. O aplicativo usa ferramentas como análise de perfil e inteligência artificial para melhorar o processo de recrutamento em grandes empresas.

A Gupy já atende empreendimentos gigantes – como Cielo e Kraft-Heinz – e acabou de receber um novo aporte de personalidades de peso no mundo do empreendedorismo.

A Canary (fundo de investimento liderado pelo fundador do Peixe Urbano Julio Vasconcelos) se uniu ao Yellow Ventures (fundo de investimento do fundador do iFood Patrick Sigrist) para aportar 1,5 milhão de reais na startup – que quer se tornar a melhor solução de recrutamento do Brasil.

Criação do negócio e acelerações

A Gupy nasceu a partir da experiência de Mariana Dias como funcionária da Ambev. Ela entrou no ano de 2011, como trainee, e de visitar fábricas passou a trabalhar na área de recursos humanos.

“Como na maioria das grandes empresas, cada vaga da Ambev que aparece no LinkedIn ou no Facebook gera milhares de candidaturas. Embora a gente tivesse esse grande volume de candidatos, tínhamos um grande ‘turnover’ [saída de funcionários]”, explica Dias.

Por isso, ela e os funcionários da área de RH começaram a pensar que talvez não estivessem recrutando as pessoas certas. “O que os candidatos que chegam ao final do funil de seleção, de fato ficam na empresa e são ‘top performers’, têm em comum? Queríamos descobrir isso.”  

Com base nessas características, um algoritmo preditivo poderia indicar qual candidato tem potencial de crescer dentro da empresa. As candidaturas já seriam ranqueadas e o pessoal de recursos humanos poderia direcionar o tempo perdido no processo operacional e subjetivo de selecionar currículos para focar nas entrevistas.

Com essa ideia em mãos, Dias decidiu empreender no ano de 2015. “Foi difícil sair da Ambev. Tinha acabado de receber o convite de virar uma pré-sócia da Ambev, mas vi que iria me arrepender pelo resto da vida se não tocasse o projeto.”

Dias convenceu uma colega de trabalho, Bruna Guimarães, da oportunidade de mercado. As duas abandonaram o emprego, venderam seus carros, foram morar juntas e começaram a fazer contas para enxugar ao máximo o futuro empreendimento. 

Logo, outros sócios entraram no negócio: Guilherme Dias, o irmão de Mariana, e Robson Ventura. Ao todo, 40 mil reais foram investidos para começar o Gupy. “Rodamos nosso primeiro ano com esse valor e com muitas parcerias de desenvolvimento“, explica a empreendedora.

O aplicativo começou validando sua ideia em diversas empresas. ”Quando percebemos a demanda, no lugar de procurar um investimento-anjo para continuar a aprimorar o produto, buscamos uma grande empresa que pudesse comprar da gente.”

No caso, foi a empresa de alimentos Kraft Heinz. Segundo Dias, a Gupy conseguiu reduzir em 80% a carga operacional de recursos humanos e aumentar o engajamento dos candidatos no processo seletivo em três vezes. “Antes, era um processo travado e as pessoas desistiam.”

Os bons resultados vistos na gigante de alimentação trouxeram novos clientes. Hoje, a Gupy atende também marcas como Cielo, Movile e Somos Educação. A startup não abre o número de grandes empresas que contratam o serviço.

Fonte: EXAME