Ao estudar uma proposta de trabalho, é preciso tomar cuidado para não se enganar pelas aparências: um salário relativamente alto pode ser menos vantajoso do que um outro, mais baixo, se você esquecer certas variáveis sutis.

A matemática da remuneração é mais complexa do que parece, diz Paul Young, engenheiro de software do Google. “O salário é só uma parte do pacote, e em alguns casos nem é a maior parte”, escreve ele.

Para alguns cargos de nível sênior em grandes empresas, por exemplo, o retorno financeiro que vem pela participação nas ações da companhia é igual ou mesmo superior ao salário em si.

Outros ganhos variáveis, como comissões ou bônus também precisam ser entendidos como uma parte indissociável do cálculo da remuneração na hora de aceitar um emprego.

Assim como ocorre com a participação acionária, esses valores são difíceis de prever, porque dependem de variáveis flutuantes. “É possível ganhar bônus de mais de 100 mil dólares no Google, embora um desenvolvedor de software ganhe apenas 15% do seu salário-base, em média”, exemplifica Young.

Não se deve esquecer que os benefícios oferecidos pela empresa são um ingrediente central da contrapartida financeira. O Google, por exemplo, oferece café da manhã, almoço e jantar de graça para o funcionário — o que adiciona pelo menos 10 mil dólares à sua remuneração anual total, descontados os impostos.

Também é importante analisar se a empresa oferece algum plano de previdência. Segundo Young, o Google paga metade da contribuição, o que pode se traduzir em até 9 mil dólares a mais por ano.

É claro que o valor percebido de cada benefício pode variar muito de pessoa para pessoa. “Quanto eu tinha 20 e poucos anos, eu não achava que o plano de saúde era tão importante”, conta Young. “Agora que eu tenho uma filha, dou muito mais atenção para isso”.

A localização da empresa também não pode ser ignorada na hora de analisar uma oferta de emprego. Se você consegue acessar o escritório a pé ou com transporte público, pode evitar gastos com combustível e estacionamento, por exemplo.

Além do dinheiro, é importante analisar o tempo e a energia exigidos para o deslocamento. “Muita gente não vai gostar de incluir uma ou duas horas extras de trânsito na sua rotina”, diz Young. Mudar de cidade, estado ou país também pode não estar nos seus planos, principalmente se você tem raízes fincadas em algum lugar.

Valores sem preço

Segundo Young, nem todas as vantagens e desvantagens de aceitar um emprego podem ser colocadas na ponta do lápis — mas mesmo o que é impossível de medir com precisão tem imensa relevância.

O porte da empresa, por exemplo, está diretamente ligado à estabilidade do emprego. “Trabalhar para uma startup traz o risco de ser demitido após um ou dois anos, enquanto grandes corporações tendem a oferecer mais segurança”, afirma Young.

Por outro lado, empresas menores costumam abrir a possibilidade de ascensão hierárquica mais cedo, enquanto companhias de grande porte impõem ciclos de promoção mais lentos e intrincados.

A abertura da empresa ao home office e a flexibilidade de horários são outros dois fatores críticos. Você poderá sair mais cedo para buscar os filhos na escola? A carga horária semanal é fixa ou variável? Existe um limite para as horas extras? As respostas podem ter um impacto substancial sobre a sua vida.

A análise de qualquer proposta de emprego também deve considerar a cultura organizacional. Você se sente mais motivado em ambientes competitivos ou colaborativos? Gosta de descontração ou prefere interações mais formais? O alinhamento aos valores e códigos de conduta da empresa tem um valor imenso para a sua felicidade no trabalho.

Por fim, diz Young, vale considerar as “pequenas vantagens”: benefícios que parecem irrelevantes diante de variáveis objetivas como salário, mas que trazem conforto e prazer para o dia a dia. Qual é o valor de ter uma sala de descanso no escritório para tirar uma rápida soneca depois do almoço, por exemplo? A resposta depende de você — e não será obtida com uma calculadora.

Fonte: Exame.com