Demissões são processos traumáticos porque quase sempre são irreversíveis. Mas há exceções: embora os casos sejam raros, é possível sim fazer a companhia mudar de ideia e devolver o seu emprego.

Ricardo Karpat, diretor de consultoria Gábor RH, diz que já viu profissionais em processo de desligamento recuperarem suas posições. “Enquanto cumpriam aviso prévio, eles tiveram uma postura tão correta que acabaram sendo readmitidos”, conta.

É claro que isso não é nada simples. A única forma de reverter uma demissão, segundo ele, é conseguir um equilíbrio delicado entre escuta e ação.

Primeiro, é necessário ouvir tanto as explicações óbvias quanto as sutis para a sua demissão; depois, é preciso empreender as mudanças exigidas com agilidade e consistência.

O importante é transmitir credibilidade nesse movimento, ou parecerá que você só está alterando o seu modo de ser para evitar a demissão, e voltará à sua postura de sempre assim que o perigo passar.

O tipo de comportamento capaz de salvar a pele de quem seria dispensado não pode ser emocional. Segundo Karpat, criar uma situação dramática e apelar para a piedade alheia só dá certo — por pouco tempo — diante de chefes muito fracos.

“Nenhuma empresa séria vai readmitir um funcionário só porque ele faz chantagem emocional”, afirma Gabriel Santos, gerente da Talenses. Pior: o vitimismo pode manchar a sua reputação no mercado por tempo indeterminado.

Outro recurso a que recorrem os mais desesperados — e que também nunca funciona — é a bajulação. O profissional que está em vias de ser demitido não deve usar seu fôlego final tentando “azeitar” relacionamentos. Sua foco deve estar em ações práticas para consertar o que vai mal.

Mas não basta trabalhar mais e melhor: é preciso atacar precisamente as falhas que provocaram a decisão pelo seu desligamento.

“Quando o seu chefe der a notícia, peça explicações sobre o motivo”, orienta Karpat. “Se disserem que foi só um corte de custos, queira saber então por que você foi o escolhido para sair enquanto outras pessoas ficaram”.

Além de demonstrar que você não está resignado, esse pedido por esclarecimento dará a oportunidade de saber o que você pode fazer para recuperar a confiança da empresa e, eventualmente, reverter o processo demissionário.

Diagnóstico precoce

O ideal é buscar explicações não apenas diante da notícia consumada de um desligamento. Se você apenas recebeu uma espécie de ultimato — ou muda uma determinada postura, ou será desligado — também é importante pedir o maior número possível de informações e esclarecimentos.

Para Santos, essa será uma boa chance de descobrir se faz sentido para você continuar ou não com aquele empregador. “Você é mesmo capaz de reagir àquele feedback?”, diz ele. “Em alguns casos, como quando a empresa está pedindo para você mudar a sua personalidade, é impossível”.

O grande problema, completa Karpat, é que o brasileiro tem uma certa dificuldade cultural em dar e até em compreender críticas.

Atentar-se para os sinais sutis de que você está sendo mal avaliado é crucial para evitar ou reverter uma demissão. Vale uma analogia com a saúde: o diagnóstico precoce de uma doença pode salvar a sua vida.

De todo modo, prevenir é sempre melhor do que remediar. Profissionais éticos, solícitos, comprometidos com a empresa e capazes de trabalhar em equipe são mais imunes a cortes. Já virou chavão no mundo do RH dizer que as empresas contratam pessoas por suas qualidades técnicas e as demitem por suas falhas comportamentais.

“Toda empresa quer bons funcionários, e nem sempre é fácil encontrá-los”, afirma Karpat. Quem tem uma postura ética e demonstra compromisso com o trabalho tem boas chances de manter seu emprego, até quando ele parece ter sido perdido para sempre.

E se nada der certo? Mesmo que você não consiga reverter o seu desligamento, a tentativa continua válida, segundo Santos.

Afinal, demonstrar comprometimento e obstinação sempre faz bem para a carreira — nem que seja para deixar uma recordação positiva depois que você for embora. Agir com profissionalismo pode gerar novas oportunidades no futuro, fora ou até dentro dessa mesma empresa.

Fonte: EXAME.com