Entrevistas de emprego são tensas por definição: em um curto espaço de tempo, você precisa se sentar à frente de um estranho e ter uma conversa com potencial decisivo para o seu futuro.

O nervosismo pode aumentar ainda mais se você se deparar com perguntas ou situações inusitadas — o que não é raro. Por mais preparado que um candidato esteja, ele nunca estará 100% pronto para um processo seletivo, diz Isis Borge, gerente de divisão da consultoria Robert Half.

A especialista em recrutamento diz que não faltam exemplos de surpresas em entrevistas. “Já vimos empresas que perguntavam qual era o time de futebol do candidato, porque não queriam torcedores de uma equipe diferente da escolhida pelo CEO, ou que queriam saber se a pessoa tinha alguma objeção a animais de estimação”, conta ela.

Mas como garantir que uma “saia justa” não vai comprometer o seu sucesso em um processo seletivo? Especialistas ouvidos por EXAME.com listaram 7 situações comuns que podem gerar desconforto, e dizem qual é a melhor forma de manejá-las. Confira a seguir:

1. O entrevistador faz uma pergunta inusitada
Qual seria um bom motivo para não contratar você? Do que você mais se envergonha no seu currículo? O que faria você recusar esta vaga? Embora não sejam unanimidade entre recrutadores, perguntas “capciosas” como essas ainda aparecem em alguns processos seletivos. Se acontecer com você, a dica é manter a calma e lembrar que não existe uma única resposta certa.

“A intenção de quem faz esse tipo de pergunta é conhecer você melhor, ou ver como você reage ao inesperado, à surpresa”, explica Raphael Falcão, diretor da consultoria Hays Experts. “A única forma de se preparar é fazer um reflexão profunda sobre as suas competências e fraquezas”. Também vale pensar sobre os seus valores pessoais e sua aderência às características culturais da empresa em questão. Uma vez feito esse balanço, você terá calma suficiente para responder qualquer pergunta com naturalidade e franqueza.

2. Aconteceu um imprevisto no trânsito, e você vai se atrasar muito
Se você mora numa cidade grande, sair com antecedência é fundamental para garantir a sua pontualidade na entrevista. Ainda assim, surpresas acontecem. Para não entrar em pânico diante de um engarrafamento inesperado, a dica é ter sempre um contato de emergência em mãos.

“Ligue para o recrutador e explique sinceramente a situação”, recomenda Falcão. “Deixe para ele decidir se vai esperar você chegar ou se prefere remarcar a entrevista para outro dia ou horário, mas mostre disponibilidade para ir de qualquer forma”. A regra não vale apenas para o trânsito, mas para qualquer tipo de imprevisto que possa acontecer no caminho para a entrevista.

3. O recrutador pergunta quantos anos você tem
Alguns profissionais não gostam de revelar sua idade na entrevista de emprego, por medo de discriminação. O conselho de Isis Borge, gerente da consultoria Robert Half, é manter a calma, avaliar o contexto e responder com sinceridade.

“Se for muito mais velho que a média dos profissionais da empresa, diga que isso não interfere na sua disposição para aprender”, explica ela. “Se for muito mais jovem, deixe claro que tem maturidade suficiente para assumir a posição”. Porém, se você sentir que a empresa tem qualquer tipo de preconceito sobre esse assunto, talvez seja melhor desistir da vaga e procurar outro empregador.

4. Você encontra um amigo ou colega de trabalho entre os concorrentes
Descobrir que você está competindo pela mesma vaga com um conhecido pode gerar bastante constrangimento — principalmente se vocês não têm intimidade suficiente para conversar sobre a situação. Porém, se você o encontra na sala de espera ou numa dinâmica de grupo, não há o que fazer senão cumprimentá-lo e dizer alguma coisa.

“Seja discreto e educado, aja naturalmente e evite fazer perguntas para a pessoa”, aconselha Falcão. “Também não tente justificar a sua presença ali, nem dar qualquer satisfação”. Segundo o diretor da Hays Experts, mentir é a pior solução, porque a situação pode virar uma “bola de neve” e gerar prejuízos desnecessários à sua reputação.

5. O entrevistador quer saber se você planeja ter filhos
Muitas mulheres ainda se deparam com perguntas sobre planejamento familiar em processos seletivos. A melhor resposta, na opinião de Borge, é sempre a verdade. “Não minta, mas se sinta à vontade para perguntar a razão desse questionamento”, diz ela. “A empresa também tem a obrigação de ser transparente sobre as suas expectativas”.

Assim como outras perguntas de ordem pessoal, questões sobre o seu desejo de ter filhos não precisam obrigatoriamente ser respondidas. “Se você sente que a empresa está fazendo o questionamento de forma ofensiva e não demonstra respeito pela sua vida pessoal, agradeça a entrevista e vá embora”, afirma a gerente da Robert Half.

6. O entrevistador acordou de mau-humor
Se você sente que o recrutador está tratando você com frieza sem qualquer motivo aparente, procure se lembrar de que todo mundo tem dias ruins. A pior reação é encarar o comportamento do outro como uma questão pessoal, e deixar o nervosismo atrapalhar o seu desempenho na conversa.

A dica de Falcão é “quebrar o gelo” no começo da entrevista com assuntos amenos para avaliar a disposição psicológica do entrevistador. “Se ele mostrar uma postura séria e fechada, tente ser mais objetivo, dar respostas diretas e evitar brincadeiras”, explica. “A única saída é respeitar o humor da pessoa e tentar se adaptar”.

7. Você precisa falar sobre seus defeitos
Esta questão pode ser incômoda, mas dificilmente será surpreendente. A maioria dos recrutadores pergunta sobre os pontos fracos do candidato. O objetivo é medir o seu grau de autoconhecimento, além de testar sua sinceridade e vislumbrar quais demandas você trará para a equipe de treinamento e desenvolvimento caso seja contratado.

Segundo Borge, é importante baixar a guarda e responder com franqueza. Isso significa fugir do clichê: você não convencerá ninguém se disser que seu maior defeito é ser “perfeccionista” ou “workaholic”. Procure fazer uma reflexão prévia sobre as suas principais lacunas, aconselha a especialista, e vá para a conversa com uma resposta bem fundamentada em mente.

Por: Claudia Gasparini/ Fonte: Exame.com