Você tem uma sensação crônica de fadiga, tensão e sufocamento só de estar perto do seu chefe? Fica nervoso quando precisa apresentar algum tipo de problema para ele, com medo de uma reação intempestiva?

Talvez você tenha um gestor tóxico — e a palavra não é exagero. “Existem pessoas cujas atitudes fazem mal à saúde, porque emitem uma certa toxicidade para quem está em volta’”, diz a coach Eva Hirsch Pontes, professora convidada da Fundação Dom Cabral.

Instáveis, grosseiros, severos ou narcisistas, os líderes nocivos para suas equipes podem apresentar características diversas. Seu único ponto em comum, decorrente da falta de inteligência emocional, é não se dar conta do mal-estar que produzem.

“O líder tóxico tem algumas desordens primárias, que o impedem de enxergar o outro”, explica Pontes. “Em geral, tem uma baixíssima autoestima ou uma necessidade de controle para se sentir minimamente estruturado, além de diversas questões inconscientes que podem ter relação com sua infância e que são expressas de uma forma que machuca o outro”.

O principal problema está ligado aos seus padrões de comunicação. Na visão de João Luiz Pasqual, presidente da ICF (International Coach Federation) no Brasil, existem líderes que falam de forma assertiva, direta e sem rodeios — o que é bom. Algo totalmente diferente é o chefe que não toma o menor cuidado com as suas mensagens.

“São pessoas que alteram bruscamente seu padrão de comunicação por pequenos motivos, usam um tom de voz agressivo e às vezes até recorrem a xingamentos”, explica ele. Seus gestos e outros aspectos da linguagem corporal também espelham a dificuldade em se comunicar de forma serena e racional. O resultado são doses cavalares de adrenalina em quem está por perto.

Como você pode ser intoxicado

Além de prejudicar o seu equilíbrio emocional, a convivência diária com um chefe tóxico também pode fazer mal para seu organismo.

“O acúmulo de raiva ou tristeza sempre chega ao corpo”, diz Pontes. “Você libera o hormônio do estresse, o cortisol, e aí começam as alergias, disfunções estomacais, entre outros problemas fisiológicos”.

Isso para não falar no preço que a sua carreira pode pagar. “Um chefe tóxico frequentemente compromete o desenvolvimento profissional e as possibilidades de ascensão do funcionário dentro da empresa”, afirma Pasqual. Afinal, uma grande dose de energia — que poderia ser usada para aprender e produzir mais — acaba sendo desperdiçada com conflitos interpessoais.

O clima instalado é de “salve-se quem puder”. Para evitar agressões do chefe, os liderados entram em uma espécie de modo de sobrevivência e até de competição, explica o presidente da ICF Brasil.

Frases para neutralizar essa toxicidade

Na visão de Pontes, aplacar os efeitos de um chefe tóxico sobre a sua vida é parecido com fortalecer o seu sistema imunológico contra um vírus. “Você precisa dormir bem, ter uma alimentação equilibrada, meditar, estar bem consigo mesmo para manter o controle”, explica a professora.

Não adianta varrer o seu incômodo para debaixo do tapete: é preciso saber nomear as emoções e saber por que você sente cada uma delas. Se você está com raiva, por exemplo, é importante buscar uma forma emocionalmente inteligente de liberar esse impulso agressivo — nem que seja em uma enérgica partida de tênis.

O segredo de profissionais que sobrevivem a gestores abusivos é uma elevada capacidade de automotivação. O conselho de Pasqual é não desistir dos seus propósitos e valores. “É preciso descobrir como ter prazer com os próprios resultados, independentemente do que acontece no entorno”, explica.

Em tempo: nada disso vale se o problema do seu líder for falta de ética. “Se ele está mentindo, enganando a empresa ou ferindo valores fundamentais, não basta simplesmente buscar táticas de autodefesa”, diz Pontes. “Nesse caso, o RH precisa ser envolvido”.

A boa notícia é que existem formas de não se contaminar (tanto) pelo problema. Os especialistas ouvidos por EXAME reuniram 7 situações de estresse provocadas por líderes tóxicos e, para cada uma delas, um exemplo de frase que pode servir de antídoto contra seu “veneno”. Confira:

1

Diante de um ataque nervoso ou “chilique”, espere. Segundo Pontes, na hora da “birra”, é melhor não dizer nada, porque o outro não vai ouvir. “Entenda que ele está fora de controle naquele momento e é melhor aguardar uma oportunidade mais adequada para abordá-lo.”, explica ela.

Na hora certa, diga algo como “Você pode me ajudar a entender como eu poderia ter feito isso melhor?. Quando você oferece ajuda e pede dicas para melhorar a sua própria contribuição, mostrará que está se colocando como parte da solução, e não do problema.

2

Diante de um xingamento direcionado a você, também é importante prestar atenção ao timing. A melhor opção é não reagir imediatamente, porque a raiva e a tristeza podem prejudicar o seu raciocínio. Pasqual recomenda respirar fundo e, na hora mais oportuna, pedir para conversarem em privado.

Em uma sala reservada, diga como se sentiu. “Como em todo bom feedback, comece falando sobre aspectos positivos da relação entre vocês”, aconselha o presidente da ICF. “Depois, fale concretamente sobre a situação do xingamento e fale algo como ‘Não consigo dar o meu melhor quando você fala dessa forma comigo’”. Dizer simplesmente que você ficou ofendido não é suficiente; é preciso mostrar para o líder que você não produzirá bem se ele continuar tratando você de forma rude.

3

Diante de uma crítica destrutiva ao seu trabalho, procure saber se existem evidências que comprovem que a sua entrega realmente estava ruim. Se for o caso, é importante ter humildade para reconhecer isso. “Precisamos filtrar o que há de valor na crítica e só então conversar com o líder”, recomenda a professora da Fundação Dom Cabral.

Nessa conversa, é importante dizer algo como “Estou com dificuldade e gostaria da sua ajuda para fazer um curso ou receber dicas de um especialista”. Para não se desgastar ainda mais, vale ter serenidade para desconsiderar o aspecto destrutivo da crítica e não confrontar o gestor diretamente. A melhor resposta é mostrar que você não se ofende facilmente e está sempre disposto a aperfeiçoar sua entrega.

4

Diante de um líder controlador e desconfiado, que quer ser copiado em todos os e-mails, pergunte a ele: “O que você quer saber especificamente todos os dias?”. Você também pode se oferecer para mandar as notícias e atualizações mais importantes do trabalho de tempos em tempos. O essencial é deixar tudo combinado, para evitar a repetição da cobrança.

5

Diante de um líder autoritário, que não gosta de ser contrariado nem corrigido, colecione evidências de eventuais ideias contrárias às dele. Em algum momento, experimente dizer: “Andei fazendo pesquisas e encontrei algumas informações que podem enriquecer o nosso processo de tomada de decisão”.

Segundo Pontes, é importante apresentar as divergências como complementos, porque isso elimina a sensação de que se trata de uma batalha de argumentos. “Ele continua sentindo que está no controle e que você está apenas oferecendo subsídios”, diz a coach.

6

Diante de um líder viciado em trabalho, que fica irritado quando as pessoas não estão no mesmo ritmo, busque demonstrar entusiasmo pelas ideias que ele apresenta como forma de aplacar sua ansiedade.

Porém, quando ele exagerar nas cobranças, diga algo como: “Estou me dividindo entre os projetos A, B, C e D, e gostaria de saber qual deles você quer que eu priorize”. “Fazer esse tipo de pergunta ajuda a trazer foco para o seu gestor”, explica Pontes. De uma forma muito gentil, você está fazendo com que ele entenda que não consegue dar conta de tudo.

7

Diante de um líder rude, autoritário, centralizador e exigente ao extremo, que está acabando com a sua saúde e já está fazendo você pensar seriamente em pedir demissão, a saída pode ser mais radical. Se você já tentou de tudo, talvez valha uma última tentativa: dizer algo como “Estamos juntos há tanto tempo, mas vejo que nossa relação está desgastada. Você quer meu apoio para transpor esses desafios?”.

É uma forma de desafiá-lo, e ao mesmo tempo mostrar disponibilidade para ajudá-lo. “Para dizer isso ao chefe, você precisa ser extremamente corajoso e seguro de que a empresa valoriza sua permanência na equipe”, diz Pasqual. “É arriscado, mas fazer essa pergunta pode mudar a sua vida para melhor dali em diante”.

Fonte: EXAME