01Tempo: você pode matá-lo, chamá-lo, servi-lo, guardá-lo, cria-lo ou fazê-lo voar. Mas uma coisa que os empresários não devem fazer com o tempo, segundo David Schonthal, é deixá-lo em estado líquido.

As restrições, devidamente utilizadas, podem ser uma das forças mais poderosas por trás da inventividade. Nenhuma restrição é mais poderosa do que o tempo.

Existem várias maneiras de aproveitar o tempo com sucesso. Independentemente de estar decidindo acelerar ou retardar processos, impor prazos ou reservar tempo para a reflexão, a chave é estar consciente de quanto tempo você tem e ser realista sobre como pretende alocar esse tempo.

Schonthal, professor clínico associado de inovação e empreendedorismo na Kellogg School e diretor de portfólio da IDEO, oferece quatro sugestões importantes para os inovadores poderem usar o tempo a seu favor.

Mude suas sessões de brainstorming

O primeiro passo de qualquer processo criativo, a geração de ideias, pode também ser o mais doloroso. Pense na imagem mental dos membros da sua equipe sentados, apáticos, em torno de uma mesa de conferência, ostensivamente praticando brainstorming, mas, na verdade, inventando novas maneiras de rabiscar nas margens dos seus blocos de notas.

A melhor maneira de iniciar o processo de geração de ideias pode ser a de virar tudo de ponta cabeça.

Ao fazer o brainstorming de soluções mais criativas, uma abordagem apoiada pela pesquisa da Kellogg é a de forçar a discussão para um ponto além dos limites normais. A ideia é que depois de se chegar no limite, ainda pode haver um monte de ideias muito boas ainda não levantadas.

Schonthal aposta em um processo que é um pouco mais contra intuitivo: chegar no limite e desistir. Dê à sua equipe um intervalo bem curto, não mais do que 10-15 minutos, para obter o maior número possível de ideias relacionadas a um tema específico em pauta. Em seguida, trabalhe a partir desse ponto.

“Quando se pega um recurso e o restringe, as pessoas se obrigam a fazer mais com menos e, muitas vezes, apresentam soluções criativas de forma inesperada”, diz Schonthal.

“Assim, limitar o tempo é ótimo para o processo de geração. As pessoas ficam sempre surpresas com o quanto são capazes de realizar em três a quatro minutos. Expor as coisas de dentro para fora não exige muito esforço”.

Uma distinção importante que Schonthal faz, no entanto, é que ele acredita que o melhor uso do brainstorming é como uma forma de se definir um sentido geral ou vetor para o projeto, não que isso trará a ideia “definitiva” de bilhões de dólares imediatamente.

“As pessoas costumam entrar nas sessões de tempestade de ideias com os objetivos e expectativas erradas em mente”, Schonthal diz, “assim, não é nada surpreendente ficarem desoladas com os resultados”.

Comece para aprender

Assim que sua equipe identificar um conceito em que focar, é tentador dedicar muito tempo para refiná-lo antes de mostrá-lo aos demais da equipe. No entanto, isso pode não ser o curso de ação mais eficaz, diz Schonthal.

“Por que não divulgar para todo mundo algo desenvolvido em uma semana e ver o que acontece?”, ele pergunta. “Pegue a mínima versão viável e capture as reações reais de pessoas reais”.

“Alguns dos primeiros exemplos de produtos do Twitter e do Airbnb eram apenas esboços, literalmente”, diz Schonthal.

“Mas eram conceitos bons o suficiente para se colocar na frente das pessoas para causar reações. Sim, há o perigo de não dar em nada, mas por que gastar US$ 50 milhões cometendo o mesmo erro que poderia ter cometido bem antes com menos dinheiro?”.

Mas será que o fato de quebrar a cara tantas vezes não deixa os clientes potenciais cautelosos em relação às suas criações? Não necessariamente, desde que você se antecipe sobre o fato de que está mostrando produtos em fase beta.

“Você pode avisá-los: ‘Veja, este é um trabalho em andamento. Eu só quero ver sua reação”, assinala Schonthal.

“Os consumidores estão muito mais à vontade em dar uma olhada nas coisas muito antes de estarem prontas. Olhe o caso do Google. A palavra ‘beta’ aparece ali mesmo na linha de frente, para que você saiba que está assumindo um risco em experimentar algo que talvez esteja um pouco à frente do seu tempo”.

Repita com frequência e rapidamente

Se estiver lançando em beta, está aceitando o fato de que a iteração será necessária —prototipagem, testes, análise e refino do produto.

“As pessoas muitas vezes não levam o tempo em consideração para o processo iterativo”, diz ele. “Simplesmente presumem que tudo vai dar certo. Vêem a iteração como uma progressão bastante linear: você começa nesta fase, depois vai para esta fase. Porém a realidade é totalmente complicada”.

Schonthal aconselha que, para ter margem para esta complicação, leve em consideração o tempo para muitos e muitos ciclos de iteração, mas execute desses ciclos o mais rapidamente possível.

Ele aponta para a experiência dos alunos empreendedores que supervisiona no Zell Fellows Program da Kellogg, um acelerador de empreendimentos seletivo. Inicialmente, os alunos levam três semanas para executar o primeiro ciclo de iteração.

O ciclo seguinte leva duas semanas. Ao final do curso, cada ciclo de iteração leva menos de uma semana, porque os alunos aprenderam o que significa “bom o suficiente”.

Essa é uma lição fundamental, dada a rapidez com que as coisas se movimentam no mundo atual de desenvolvimento de produtos.

“Hoje, a inovação é mais rápida do que nunca”, diz Schonthal. “O que pode ser feito em uma unidade de tempo é completamente diferente agora do que era quando eu comecei há dez anos. A inovação será mais rápida no próximo ano do que é hoje e provavelmente continuará a ser cada vez mais e mais rápida”.

Reserve um tempo para a reflexão

No entanto, a estruturação do tempo para a invenção nem sempre significa agilizar processos. Um dos passos mais importantes no processo de design—a síntese—implica deliberadamente em parar para refletir sobre o que foi observado. É uma fase frequentemente esquecida.

“Não consigo me lembrar de muitas organizações que criam um objetivo de projeto muito claro para reflexão”, diz Schonthal. “Geralmente é ‘Vai, vai, vai, vai, vai! Qual é a próxima fase? Qual é a próxima fase?’ Bom, às vezes o melhor a fazer na próxima fase é olhar para trás para ver o que já aconteceu”.

É natural, e até esperado, perceber durante o processo de síntese que o problema que se propôs a resolver com seu produto possa não ser exatamente o problema que o produto resolve. Talvez isso não pareça uma grande novidade, mas há um lado positivo: reservar tempo para refletir possibilita a correção de curso.

“Tentar apressar a síntese é o beijo da morte”, diz ele. “Insights inesperados exigem reflexão. Eles nunca são superficiais. Se forem superficiais, são óbvios para todos e provavelmente não são tão inovadores assim”.

Texto originalmente publicado no site da Kellogg School of Management.

Fonte: Exame

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