Pouco se fala, mas o problema existe e não é de hoje. Há uma verdadeira muralha para que negros e pardos tenham oportunidade nas empresas brasileiras, particularmente em cargos de chefia. O diagnóstico é de Maurício Pestana, especialista no assunto, secretário de Igualdade Racial da prefeitura de São Paulo, e responsável pelo blog DIVERSIDADE CORPORATIVA, no portal da revista DINHEIRO.

Às vésperas do terceiro fórum para discutir o tema, ele falou com o portal da DINHEIRO sobre o tema:

Existe preconceito racial no Brasil da porta para dentro das empresas?

Mais de 100 milhões de brasileiros, 53% da nossa população, são de negros ou pardos. Um contingente que não está representado na estrutura econômica das empresas brasileiras, principalmente em cargos de comando. Fizemos recentemente uma pesquisa com as 500 maiores empresas do Brasil e o resultado foi surpreendente.

O que vocês descobriram?

Descobrimos que, no primeiro degrau, de trainee ou estagiário, metade dos candidatos são de origem negra ou parda. Mas, terminado este período, na hora de contratar o profissional, somente 4,5% dessas pessoas conseguem o trabalho. Parece-nos claro que há um problema racial aí, obviamente conjugado com a falta de oportunidades de educação e acesso à cultura. Mas o problema racial aflora, sem dúvida.

Existem exceções à regra?

Recentemente entrevistei o presidente do Grupo Bayer no Brasil, Theo van der Loo. Ele me disse que existem muitas organizações empresariais, talvez com exceção das americanas, que não têm políticas tão fortes porque atuam mais de acordo com as necessidades de cada país. No Brasil, segundo ele, seria necessário dar um passo à frente, algum tipo de estímulo para mudar esta situação.

O problema educacional não precede o racial na sua visão? Não seria o caso de avaliar se o preto e o pardo não têm inclusão nas empresas porque não tiveram acesso a uma boa educação?

São dois problemas distintos, porém conectados. De fato, por uma série de questões históricas, o negro e o pardo tiveram menos acesso à educação que seus pares brancos. Mas não se pode negar que há o problema racial também. Isto é claro.

O que pode ser feito nesta área para maior inclusão dos pretos e pardos?

Estamos às vésperas do 3º Fórum de Desenvolvimento Econômico SP Diverso, que ocorre no dia 9 de novembro, em São Paulo, onde debateremos algo crucial: soluções legislativas para ampliar os programas de inclusão no País. Refiro-me a ações legislativas, pragmáticas.

Quais tipos de ações legislativas podem ser feitas no Brasil?

Há uma série de coisas ainda por vir, alterar leis e sistematicamente incentivar a iniciativa privada a contratar negros e pardos, como ocorre em países da Europa e mesmo nos Estados Unidos. Os americanos, por exemplo, têm uma lei que garante contração de no mínimo 10% de negros por empresas privadas, uma espécie de quota.

Na sua avaliação este seria o caminho para o Brasil: quotas de contratação de afrodescendentes, como se faz com deficientes físicos?

Não gosto da ideia de algo imposto. Prefiro o conceito de metas e não de quotas. Mas se avançássemos para uma legislação em que a empresa que contrate afrodescendentes pudesse ter alguma vantagem fiscal, juros menores em bancos públicos, enfim, algo que a incentivasse a diminuir a distância social, não acho que seria ruim.

Seria uma espécie de Lei Rouanet?

Sim, algo nesse sentido. Hoje já temos isto no serviço público da prefeitura, onde 20% das vagas são destinadas aos negros e pardos. Também, no mesmo montante, em determinadas áreas do Governo Federal e Judiciário.  Mas ainda não conseguimos estender este conceito para as empresas.

Fonte: Isto É Dinheiro