Quer melhorar o modo como você adquire conhecimento? Aqui vão algumas dicas de um jornalista científico americano.

blog-aprenda-a-aprender

 Manter o foco. Ser obsessivo nos treinos. Concentrar-se por longos períodos. Essas têm sido algumas das principais recomendações para tornar-se um profissional extraordinário. São recomendações quase óbvias… mas talvez equivocadas. No livro How We Learn (“Como aprendemos”), lançado em setembro nos Estados Unidos, Benedict Carey, repórter de ciências do New York Times, afirma que muito do que pensamos saber sobre aprendizado está errado.

Tome o famoso mantra das 10 mil horas de treino, por exemplo. Essa tese, popularizada pelo escritor Malcolm Gladwell no livro Fora de Série dá um valor numérico a uma noção basicamente irrefutável: quem treina mais fica melhor. Há nuances, porém. Numa experiência feita em 1978, dois grupos de crianças treinaram arremessar uma bolinha num alvo. Um grupo treinou apenas o arremesso a 1 metro de distância. Um segundo grupo alternava as distâncias de meio metro e 1,5 metro. Depois de 12 semanas de treino, veio o teste, apenas na distância de 1 metro – a mesma treinada pelo primeiro grupo. Mas o segundo grupo teve desempenho muito melhor. Por quê? A conclusão foi que a variação é mais eficiente que o foco. Ela nos força a avaliar e incorporar ajustes em condições diversas.

Em 2006, os psicólogos Robert Bjork e Nate Kornell chegaram a uma conclusão similar, testando métodos para ensinar o estilo de pintores clássicos. Um grupo estudou apenas os artistas sobre os quais haveria um teste. Mas um segundo grupo, que distribuiu o tempo estudando também artistas menos importantes, aprendeu mais. Diversificar, portanto, faz sentido. Mas dentro de um campo relacionado ao alvo.

Diversificar o ambiente também melhora a retenção de informações, segundo estudos. Não só o espaço físico. Pode ser a alteração da música ou a troca da ordem do material estudado. A hipótese, aqui, é que uma certa desordem obriga o cérebro a se esforçar para criar sentido. Numa experiência, alunos que leram um texto de Franz Kafka, um mestre dos contos absurdos, se deram30% melhor em um teste de reconhecimento de padrões.

Interromper o estudo também faz bem. Quando você larga um problema, seu cérebro continua lidando com ele. E você começa a perceber conexões antes ocultas. Ou seja, um bom modo de atacar um problema é iniciá-lo e abandoná-lo por um tempo. Mas, para colher os efeitos da interrupção, é preciso que se chegue a um impasse. E ninguém sabe dizer tampouco qual a fórmula – quanto tempo você deve ficar longe do problema, que atividades buscar nesse período etc.

Sabe-se, no entanto, que o sono ajuda. Alunos que dormem entre o estudo e o teste tiram notas entre 10% e 30% maiores. E a soneca, de pouco mais de uma hora, tem o mesmo efeito.

Se você seguir essas recomendações, estará mais bem preparado para um teste, de acordo com Carey. Mas aí vai mais uma dica: não espere para fazer o teste depois de se preparar. Faça-o antes de estudar. Uma prova não é só um jeito de medir o que você sabe. Ela altera o que você lembra e muda o modo como você vai organizar o conhecimento. Em outras palavras, as tentativas de acertar não são meros fracassos. Elas mudam a forma como encaramos o problema – e nos tornam mais atentos e participativos na hora de aprender a resolvê-lo.

Por David Cohen / Fonte: Época Negócios