Aqui estão algumas dicas profissionais tradicionais que deveriam ser questionadas ou simplesmente ignoradas

Por Catherine Pearson, do Brasil Post

Quando converso sobre assuntos profissionais com a minha mãe, muitas vezes sinto como se viéssemos de dois planetas diferentes.

Ela trabalha como advogada há mais de 30 anos e, muitas vezes, foi uma das poucas, se não a única, mulher fazendo o que ela faz, no lugar em que trabalha.

Eu, por outro lado, trabalho para uma revista com uma seção dedicada exclusivamente às Mulheres, publicada em um formato que não existia quando a minha mãe começou a trabalhar (as interwebs), e a maioria das pessoas com quem trabalho diretamente, inclusive chefes, são mulheres. Mais uma vez, planetas totalmente diferentes.

Considerando esses fatores, muitas das “regras” de carreira que faziam sentido para a minha mãe e sua geração não funcionam para mim e para a minha geração.

Aqui estão algumas dicas profissionais tradicionais que as mulheres deveriam questionar, ou simplesmente ignorar — seja por estarem ultrapassadas ou, sinceramente, por nunca terem feito muito sentido mesmo.

1. “Nunca recuse uma oportunidade de fazer networking.”

É bom estabelecer conexões profissionais (as estimativas sugerem que aproximadamente 70% dos empregos são conseguidos através de networking), mas a ideia de “fazer networking só por fazer” está equivocada, segundo Vanessa Loder, palestrante, coach executiva e CEO da empresa Akoya Power.

“As pessoas acham que precisam tomar um café e fazer contato com todo mundo, e acabam se desgastando bastante”.

Loder (que tem um MBA de Stanford e trabalhou no mercado financeiro antes de começar a A-koya) aconselha aos clientes que aceitem reuniões com pessoas que despertam a sua curiosidade, ainda que não saibam explicar por quê.

“Talvez você ache alguma pessoa ou função fascinante, e tenha a intuição de que você gostaria de conversar com a pessoa e descobrir mais”, ela disse.

“Eu realmente aconselho às mulheres a seguir essa intuição e ouvir aquela voz interna”.

2. “Acima de tudo, pense de forma estratégica.”

É claro que a estratégia tem os seus limites. Se você só explora as oportunidades de carreira que parecem ter uma ligação direta com o seu emprego, você acaba perdendo muita coisa boa.

“Siga o seu coração e a sua intuição, e vá para reuniões ou aulas que você sente que são certas para você, ao invés de forçar a barra”, disse Loder.

Talvez não haja nenhum resultado daquela aula de fotografia, ou da entrevista de emprego em outra área totalmente diferente. Mas talvez isso te leve por um caminho inusitado e interessante.

Ou como Steve Jobs comentou certa vez — “você não consegue ligar os pontos olhando para frente; você só consegue fazer isso olhando para trás”.

3. “Reduza o seu plano de cinco anos.”

Ao ponderar o “plano de cinco anos”, aquele que ninguém gosta, não pense pequeno; pense em expansão.

“Quando eu encorajo os meus clientes a visualizar como eles querem que as suas vidas estejam em cinco anos, eu peço que eles pensem tanto na vida profissional quanto pessoal – e aí peço que eles pensem ainda maior”, disse Loder.

Imagine o que você quiser e depois acrescente um “alvo de superação”, além disso.

E peça aos seus amigos que se envolvam também, já que talvez consigam imaginar possibilidades para você que você mesmo não consegue ver.

A tendência é pensar no plano de cinco anos como uma forma de simplificar as coisas.

“[Mas] o objetivo é pensar o mais abrangente e ousadamente possível”, afirmou Loder.

4. “É bom fazer várias tarefas ao mesmo tempo…”

Como a Presidente e Editora Chefe do HuffPost Arianna Huffington disse: “Nós achamos que fazer várias coisas ao mesmo tempo é ser eficiente, que nos poupa tempo. Mas na verdade, a ciência mostra que não é possível fazer múltiplas tarefas ao mesmo tempo — o que fazemos é trocar de tarefas e é uma das coisas mais estressantes que fazemos”.

E além de estressante, é ineficiente. “As pesquisas indicam que leva de 10 a 20 minutos para focar a nossa energia novamente em um projeto quando ele é interrompido”, disse Emily Seamone, conselheira de transição de carreira e de trabalho e estilo de vida.

Concentre-se em apenas uma coisa ao mesmo tempo. É mais eficaz e você manterá a sua sanidade.

5. “…e intervalos longos sem trabalhar não ficam bem no currículo”.

Ficar um tempo sem trabalhar, seja por escolha ou devido às circunstâncias, antes era considerado um sinal de alerta em um currículo, mas isso mudou.

Não importa se você passou tempo viajando, desenvolvendo um novo projeto, criando um filho ou ajudando a sua família e amigos, a chave é “vender” esse tempo de intervalo para os recrutadores.

Seamone sugere ser breve, profissional e se possível, ligar a sua experiência com algo profissional. E não sinta-se nem um pouco culpado.

“Se você sentir-se inseguro, a pessoa que vai lhe entrevistar vai perceber, ao invés, de você dizer ‘Eu tive uma oportunidade incrível, ou, eu desenvolvi tal projeto, ou eu ajudei a cuidar da minha irmã”, Loder afirma. “Assumir a experiência com confiança é bem mais importante do que o ‘intervalo’.”

6. “Preparação, preparação, preparação.”

Katty Kay e Claire Shipman argumentam na recente matéria da capa da revista Atlantic, “Homens sub-qualificados e despreparados não pensam duas vezes sobre mergulhar de cabeça. Qualificadas demais e superpreparadas, muitas mulheres ainda ficam receosas”. As mulheres só se sentem confiantes quando acham que são perfeitas. Ou praticamente perfeitas.

Por conta disso, Loder encoraja os clientes a “ir mais devagar” e entender a diferença entre estar suficientemente preparado e ficar enlouquecido.

Ela citou um de seus mentores, uma professora na universidade de Stanford que experimentou improvisar uma palestra. Ela descobriu que conseguiu se sair muito bem, e ficou até mais relaxada e tranquila.

7. “Você precisa seguir a sua paixão.”

Não há dúvida de que fazer algo que você simplesmente adora, profissionalmente, é maravilhoso — “mas lembre-se de que isso nem sempre garante um emprego estável ou um bom salário”, Seamone disse.

Não sinta-se derrotada se o seu emprego atual não é necessariamente tudo aquilo que você sonhou, nem sinta-se obrigada a transformar cada uma de suas paixões (o seu amor por escrever, ou, quem sabe, cozinhar) em uma carreira.

E, lembre-se também, de que pode levar algum tempo para descobrir qual é essa paixão.

As pessoas precisam de tempo para conhecerem a si mesmas “profissionalmente”, afirmou Seamone.

Ainda que o seu emprego não acenda uma chama ardente dentro do seu coração, ele ainda pode lhe conduzir por caminhos novos e interessantes.

8. “A sua personalidade de trabalho e a sua personalidade real são pessoas diferentes.”

Existem limites para o quanto você pode se soltar no escritório e o que é aceitável em uma empresa tipo startup é provavelmente bem diferente do que é aceitável em um ambiente de trabalho coxinha.

Mas a ideia de que você precisa de alguma maneira ser uma versão mais séria de si mesma (ou de praticamente qualquer coisa) quase não existe mais — e não faz nenhuma falta.

“O papel do sucesso no mundo profissional pertencia tradicionalmente a um homem branco durante muito tempo, e muitas culturas ainda consideram que esse é o padrão”, disse Loder. “Mas a maneira de ser mais feliz — e de causar um impacto — é ser autêntico”.

Fonte: Exame.com | Brasil Post