Passados o erros e acertos dos primeiros anos de carreira, muita gente chega aos 30 com a bagagem profissional repleta de conquistas e experiências, mas, lá no fundo, nutre a incerteza sobre o caminho que se está seguindo. Outros, ainda tão longe dos objetivos profissionais, se questionam se um dia chegarão lá. E ainda há quem se pergunte se o esforço tem valido a pena.

“Dos 30 em diante, você passa da fase eufórica de experimentar o mundo de trabalho e passa a refletir mais sobre a carreira. As pessoas tendem a querer acertar mais”, afirma a coach Jaqueline Weigel.

Ao mesmo tempo, “nesta faixa etária, as pessoas tendem a ser muito pressionadas pela sociedade. Alguém aos 30, culturalmente, precisa ter tudo já definido”, diz Fátima. A ascensão profissional vira uma obrigação. O sucesso, um dever. E quando eles não aparecem na vida, a pressão do lado de fora redunda quase sempre em muitas crises internas, veja quais são as principais:

As crises

O crescimento na carreira se “afunila”

Quanto mais você sobe na carreira, mais estreito o caminho fica: o que antes era uma larga porta de entrada, hoje é apenas um funil. Por isso, depois de certa faixa etária e experiência profissional torna-se cada vez mais difícil dar o próximo passo. “Existe uma pressão interna e social para avançar para o próximo nível”, diz Pablo Aversa, da Alliance Coaching.

A meta de ser diretor está longe

Com tanta gente chegando cada vez mais cedo ao topo das organizações, a pressão para quem ainda está longe deste nível na hierarquia tende a crescer conforme o tempo passa. Movidos pela lógica de que o tempo está correndo e que não podem perdê-lo, muitos se embrenham na ideia de que é preciso chegar a um estágio X da carreira “custe o que custar”. “Querem crescer sem ter uma base sólida para isso”, diz Fátima Mota, da F&M Consultores.

A carreira chega a um platô

“Todo funcionário tende a crescer até seu nível de competência”, afirma Aversa, explicando um conceito da teoria de Lawrence Peter. “As promoções só acontecem até o momento em que assumimos uma função onde não apresentamos mais um bom desempenho, onde assumimos um nível de incompetência e ficamos estagnados”. E, algumas vezes, já aos 30, alguns profissionais já se veem nesta condição.

A vida pessoal e profissional estão em descompasso

Muitas vezes, em nome de perseguir um alvo profissional, muita gente acaba sacrificando os próprios interesses pessoais, a saúde e por aí vai. “Em vez de ter um foco claro de onde quer e precisa chegar, entra para o mundo da competição e ambição que custa muito caro e pode gerar frustração”, afirma Fátima.

Ainda há dúvidas sobre a validade do caminho

O resultado de todas as crises anteriores, muitas vezes, desemboca na mesma toada de questões: Estou no caminho certo? Está valendo a pena? Para onde essas escolhas estão me levando? “Nem sempre se tem a certeza se seu trabalho está sendo percebido. Ele está investindo seu tempo e esforço, mas não sabe se um dia será recompensado”, diz Jaqueline.


Como encarar

Olhe para dentro de si

Diante de tanto descompasso interno, o primeiro passo é se aquietar e tentar colocar ordem tudo o que existe dentro de você mesmo. “O mundo mudou, agora é a nossa vez de nos conhecermos muito bem”, diz Jaqueline.

Segundo ela, aqui a dica não é apenas saber quem você é, mas identificar quais são seus talentos, experiências e desejos. “Você tem que saber bem qual tipo de vida quer levar para encaixar a carreira e a vida pessoal dentro disso”, diz a especialista.

Feito isso, o próximo passo é entender, em minúcias, como você funciona. “É fazer a pergunta quem eu sou na essência: compreendendo o que energiza ou o que bloqueia você”, afirma. Para, a partir disso, tomar as melhores decisões daqui pra frente.

Invista na sua própria evolução

A combinação destes dois fatores (o que você quer e o tempo necessário para que isso amadureça) deve ser a base de todas as decisões daqui para frente. Independente da conclusão que você chegar, é essencial ter em mente que sem se preparar, sem investir no seu desenvolvimento, dificilmente conseguirá sair do lugar.

“Se a gente não se transforma e não evolui, chegaremos ao nosso nível ao nosso nível máximo. Alcançamos uma determinada função e ficamos estagnados”, afirma Aversa.

Mas fazer MBA ou outro programa de educação executiva não é tudo. Crescimento na carreira e desenvolvimento de competências devem caminhar juntos. “É o cruzamento entre prática e conhecimento que gera o crescimento sustentável”, diz Fátima.

Dê tempo ao tempo

A construção de uma carreira bem sucedida tem mais pontos em comum com uma maratona do que com uma corrida de cem metros rasos. Na maratona, os mais velozes na largada nem sempre são os vencedores: vencê-la depende de velocidade, mas também de uma boa administração das próprias energias.

Isso significa que, na prática, a carreira depende de paciência e de noção do percurso como um todo. Sair na frente agora para não aguentar a ladeira dali há alguns metros não pode ser uma opção.

“A pressa não é produtiva. Você não pode decidir ter um filho hoje e fazê-lo nascer dali dois meses. Terá quem esperar nove meses”, compara Jaqueline. De acordo com Fátima, o maior perigo é crescer profissionalmente sem amadurecer emocionalmente. “Quem cresce sem enraizar pode quebrar”, diz.

Fonte: Exame